Eduardo Cunha volta a pregar o parlamentarismo

  • Por Jovem Pan
  • 14/07/2015 09h52
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Rodrigo Ramon/JP Presidente da Câmara

Reinaldo, Eduardo Cunha concedeu nesta segunda (14) uma entrevista aos Pingos Nos Is aqui da Jovem Pan. O que você destaca de mais importante?

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concedeu uma entrevista na noite desta segunda ao programa “Os Pingos nos Is”, que ancoro na Jovem Pan. Respondeu a quase 30 perguntas, todas elas sobre temas relevantes. Nesta página, há uma sequência de vídeos, que estão no Youtube, com os principais momentos da conversa, que durou quase uma hora. O que escolho como a questão mais importante? Aquela que diz respeito ao futuro.  Cunha defendeu o regime parlamentarista e afirmou que, “a depender da construção do processo”, é sim, possível que o Congresso brasileiro aprove uma emenda para o sistema vigorar a partir de 2019.

Cunha defende, no entanto, um modelo semelhante ao francês ou ao português, em que a população elege diretamente o presidente, que passa a funcionar como âncora da estabilidade política. O dia-a-dia da administração, no entanto, fica sob a responsabilidade de um primeiro-ministro. O deputado acha que, vitoriosa uma emenda parlamentarista, ela tem de ser submetida a referendo.

É claro que a crise econômica e a crise política por que passa o país pontuaram toda a conversa. Perguntei ao presidente da Câmara como ele analisa essa gritaria segundo a qual discutir o eventual impedimento de Dilma é golpe. Ele afirmou: “Não é golpe! Sem dúvida nenhuma, não! Agora, sem emitir juízo de valor, temos de considerar o seguinte: nós não podemos também vulgarizar o impedimento do presidente da República. Nós não podemos tratar a questão [impedimento] como um recurso eleitoral”

Na entrevista, Cunha considerou que é a crise política que turbina a crise econômica, não o contrário. E tem um juízo muito severo sobre a atuação do PT: “A crise política acaba dando maior relevo à crise econômica. Nós temos hoje uma crise de expectativas e uma crise de confiança no país. O investidor não vem, quem está aqui não reaplica. Não se consome. Há perda de emprego, de postos de trabalho. Dentro do PT não há boa vontade. Em primeiro lugar, o PT faz o governo mergulhar na sua própria agenda e nas suas próprias crises. Em segundo lugar, o PT sabotou muito a articulação política do próprio Michel Temer. O cidadão na rua, o investidor, o cidadão de classe média, ele vê isso. Isso aumenta a desconfiança dele”.

Será, então, que, no lugar de Temer, Eduardo Cunha deixaria a articulação política? “No lugar dele, eu concluiria esse processo do ajuste fiscal e deixaria, sim”. Mas a crise não se agudizaria? “Depende da forma como eles [petistas] se comportarem. O que não adianta é ele ficar e não conseguir cumprir os compromissos que ele assume.” E Cunha avança: “Qual é a agenda que o governo tem para cumprir os três anos e meio? O governo não demonstra que agenda ele quer seguir. Eu acho que o PT atrapalha o governo. O PT empurra o governo para a sua impopularidade. A agenda do PT é conflitante com a dos outros partidos da base. O governo acaba optando pela agenda do PT e mergulhando ainda mais na crise política”.

Cunha voltou as dizer que considera irreversível o divórcio futuro entre o PMDB e o PT e reiterou que seu partido deve ter um candidato próprio à Presidência da República em 2018. Já para um regime parlamentarista? No que depender dele, sim!

O agora presidente da Câmara é um dos investigados da Operação Lava Jato. “Os Pingos nos Is” quis saber se ele teme alguma coisa e como analisa a operação: “Eu estou absolutamente tranquilo até porque eu fui à CPI espontaneamente depor. Não tenho dúvida de que é um processo político que está por trás do meu caso, e não descarto desdobramentos políticos que ainda possam existir até porque a gente está em meio à eleição do Ministério Público, e querem me usar nesse processo. Meu advogado, o doutor Antônio Fernando, que é quem fez a denúncia do mensalão, ele me pediu para que não falasse de público do assunto até a eleição do Ministério Público.”

Perguntei como ele vê as acusações de que a Lava Jato possa estar violando o Estado de Direito: “Eu me preocupo com isso. O ex-presidente do Supremo, o ministro Joaquim Barbosa, reconhecido por todos por sua rigidez no processo, só determinou a prisão na execução de sentença, depois de transitada em julgado e depois de julgados os embargos de declaração. Esse é um ponto que deve ser levado à reflexão. Não dá pra você achar que se vão prender pessoas para obrigá-las a fazer delações.”

Há, afinal, uma guinada conservadora na Câmara? Disse Cunha: “Nem conservadora nem não-conservadora. Nós estamos botando a pauta da sociedade. Se a sociedade, na sua maioria, 90%, apoia a redução da maioridade penal, e se isso é pauta conservadora, então estamos na pauta conservadora.”

E como ele vê a gritaria das esquerdas? “Uma parte da esquerda tem uma agenda que não é a agenda da sociedade. Os esquerdistas estão na agenda errada e ficam irritados porque querem obstruí-la. Quando a gente enfrenta a obstrução e coloca pra votar, obrigando-os a expor uma opinião — e o governo erra quando entra nessa agenda e acaba ficando com o nível de popularidade deles —, eles não gostam. A gente tem de respeitar a minoria, mas eu ainda não conheço nenhuma forma melhor de decidir que não seja respeitar a maioria. Eu fui para um debate em Portugal… Aí chegou um sujeito lá dizendo que esse negócio de maioria são três lobos e uma ovelha decidindo quem vai ser o jantar. E eu falei: “Eu nunca vi três ovelhas decidirem que o lobo é o jantar. A gente tem de ver a realidade. A democracia não inventou outra forma que seja a maioria”.

Finalmente, quisemos saber como Cunha vê a associação de sua figura com a de Frank Underwood, a inescrupulosa personagem central da série “House of Cards”. Ele levou a coisa com bom humor: “Uma determinada publicação, a serviço do governo, fez essa associação. Queriam me caracterizar como interesseiro, me estereotipar. Eu não me senti identificado com Underwood porque não tenho nenhuma das características dele: não sou homossexual, não sou ladrão e não sou assassino”.

Cunha reiterou que, na sua concepção, a constituição de família tem de ser entre homem e mulher. Para ele, isso nada tem a ver com discriminação, uma vez que os direitos civis dos homossexuais já estão assegurados: “Eu sou contra qualquer tipo de discriminação. Nós temos de respeitar a opção de cada um. Sou terminantemente contra quem discrimina quem quer que seja. Eu respeito a todos e exijo ser respeitado por todos. Agora eu não entendo, por exemplo, que a adoção de crianças por homossexuais casados ou que dizem que vão se casar seja a melhor opção para a criação de uma criança.  É uma visão pessoal que eu tenho, que pode ser considerada, por alguns, conservadora, mas é a minha visão pessoal. Mas isso não quer dizer que eu discrimine. Ou que considere discriminação quem pensa diferente”.

Eis Eduardo Cunha. Sem meias-palavras. Sem concessões.

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