Especialista acredita que Lula quer saída de Dilma para assumir a oposição

  • Por Jovem Pan
  • 10/06/2016 10h37
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Bárbara Dantine / JP Gaudêncio Torquato

 O Jornal da Manhã desta sexta-feira (10) contou com a participação do jornalista e consultor político Gaudêncio Torquato. Ele comentou o cenário político e econômico do Brasil, que em sua opinião, apesar de enfrentarem um momento crítico, se encaminham para um rumo positivo.

Impeachment e Lula

O ex-presidente Lula, em entrevista à rede do Catar, Al Jazeera, afirmou que se candidataria às eleições de 2018 com o objetivo de salvar as conquistas sociais. Na opinião de Torquato, Lula não quer que a Dilma Rousseff volte ao governo, para que ele possa ser a figura principal de oposição: “O Lula sempre quer mostrar motivos para defender sua candidatura em 2018. Não vi até agora o novo presidente anunciar medidas de destruição (dos programas sociais). Acho que tem que passar um pente fino nos programas sociais. Existem 10 mil pessoas que ganham o Bolsa Família sem ter direito. Ele quer o afastamento de Dilma para que ele ganhe palanque, quer ser candidato, não quer que a Dilma volte para ele se posicionar como oposição”.

Torquato avalia que o depoimento de Marcelo Odebrecht terá informações fundamentais sobre o envolvimento de Lula com os casos do mensalão e petrolão. Ele aponta que Lula ainda está presente na lembrança da população: “Lula é hábil no manejo dessa linguagem, tenho uma gravação dele quando ele foi ao nordeste, como presidente, e ele disse “esse governo tem que fazer isso…”, como se não fosse ele. Esse é o Lula, descarado. Depois de dois mandatos ele tem recall na cabeça do eleitorado, mas não convence mais, com velhos discursos”.

O jornalista e professor estranhou a posição do ministro Lewandowski sobre as testemunhas: “O PT vai vilipendiar, apresentar recursos até o julgamento final. É interessante observar que o Cardozo apresentou cerca de 40 testemunhas, o que significa que há um interesse de postergação, de adiar o prazo. E foi acolhido. É estranho o Lewandowski dizer que não há limites (de testemunhas). O prazo marcado vai ser na primeira quinzena de agosto. Esse cronograma não pode ser ultrapassado”.

Eduardo Cunha

Com a transformação de Cláudia Cruz, a esposa de Eduardo Cunha, em ré, acusada de ter sido responsável pela lavagem de US$ 1 milhão proveniente de propina, que foram convertidos em roupas e sapatos de grife, Torquato espera a revelação de outros casos semelhantes: “É uma quantia formidável, quantia tão grande de roupas e sapatos de marca, é surpreendente. É o retrato da família política, repartição dos recursos com mulheres e filhos. Outros casos virão”.

Sobre a situação na Câmara dos deputados, o especialista defende a saída de Waldir Maranhão e chama a atenção para as manobras de Cunha: “(Maranhão) não tem condições técnicas, pessoais e políticas de conduzir a Câmara, tem que renunciar. Rodrigo Janot pediu a prisão de Renan, Sarney, Jucá e Cunha, mas cometeu um equívoco. A base argumentativa de pedido de prisão no Senado é uma, e do Cunha é outra. O Cunha estaria usando o seu poder para se livrar do processo da Câmara. Tendo a acreditar que, em função dessa situação mais complicada de Cunha, o STF pode acolher a prisão do Cunha, mas não do Sarney, Renan e Jucá. O STF estaria esperando uma decisão rápida da Comissão de Ética da Câmara, mas Cunha e seus aliados conseguem sempre postergar esse processo”.

Governo interino

Após completar um mês de governo interino, Michel Temer foi criticado por Dilma Rousseff, que sugeriu um plebiscito, caso ela volte ao governo, para saber se a população deseja novas eleições presidenciais. Torquato avalia que ela teve chances de consultar o povo, mas não o fez: “A Dilma imita o Lula no “faça o que digo, não faça o que eu faço”. Ela sugere um plebiscito em torno da lambança do Michel Temer, mas por que ela não sugeriu isso no governo dela? Para avaliar o tamanho da lambança que ela coordenou nos dois mandatos dela? (…) Precisa cumprir o que ela prega”.

Ele ainda critica o fato de Dilma ter mantido boa parte dos benefícios presidenciais, em um momento em que está afastada.

Michel Temer causou desconfiança após voltar atrás em algumas decisões, como por exemplo, o aumento de salários no funcionalismo público. Torquato afirma que Temer demonstrou boas sinalizações em relação à economia, e tomou medidas até impopulares no meio político: “A matéria econômica está sendo bem conduzida. Mais detalhes virão na sequência. Ele começa a ter sucesso na matéria econômica. (…) O aumento para o STF, que causaria aumentos em toda a área do judiciário, ele foi devidamente contra a vontade do STF. É um momento que precisa de apoio em todas as áreas, tanto da Câmara, do Senado, como do Judiciário. Mas a economia é a locomotiva que puxa o trem da política”.

De forma geral, Gaudêncio Torquato acredita que, mesmo com o panorama complicado da política e economia do país, é possível encontrar um rumo positivo: “Eu acredito que nasce uma flor no pântano. O Brasil poderá ressurgir saindo da lama. Vamos esperar o final da Lava Jato, mas estamos divisando um novo horizonte”.

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