Foco do governo Temer não é a representatividade, aponta especialista

Brasília - O presidente interino Michel Temer faz discurso durante cerimônia de posse aos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto (Valter Campanato/Agência Brasill) Michel Temer

 O fato de não existir mulheres entre os 21 ministros empossados nesta quinta-feira (12) demonstra claramente um viés conservador do presidente em exercício, Michel Temer, mas também um retrato cristalino da participação do sexo feminino na política.

Na avaliação do filósofo e professor de sociologia da USP, Glauco Arbix, no entanto, é preciso entender o contexto como atípico, apesar de dizer muito sobre uma cultura arraigada por séculos: “Certamente há um viés conservador, mas, no entanto, eu acredito que a forma desse governo está obedecendo a uma lógica distinta, não de ter uma representação da sociedade. Nomear mulheres, negros, representantes de outros segmentos, para sinalizar para a população que há caminho de diversificação, de uma integração maior. Não acredito que seja essa a lógica que comanda esse ministério”.

Temer quebrou a tradição iniciada pelo general João Figueiredo, em 1979 e se tornou o primeiro presidente desde Ernesto Geisel, ainda na ditadura militar, a não ter mulheres na Esplanada. Nas articulações para formar equipe, a ex-ministra do STF, Ellen Gracie, chegou a ser cotada para assumir a Controladoria-Geral da União, mas recusou o convite.

O sociólogo não acha que os rumos do processo de impeachment seriam diferentes se a presidente fosse um homem. Mas Glauco Arbix explica que todo o resto é passível de preconceito: “O fato de ser uma mulher faz aflorar esses preconceitos que estão arraigados muito profundamente na sociedade brasileira. Você julga sempre as atuações em nome daquilo que você já pensa, que já tem opinião formada. Aconteceu com vários personagens, em especial as mulheres”.

O governo Dilma teve 15 ministras, sendo 3 interinas.

Reportagem: Carolina Ercolin