Gestantes têm dificuldades em encontrar leitos na rede pública e privada
Com o fechamento de maternidades no Estado de São Paulo, os sistemas público e privado estão superlotados e a falta de organização favorece a realização de cesarianas. Desde 2009, pelo menos 17 instituições deixaram de prestar o serviço e, mais recentemente, foram três hospitais. Juntos, o Santa Catarina, na capital, o Stella Maris, em Guarulhos, e o Ipiranga, em Mogi das Cruzes, eram responsáveis por mais de 500 partos por mês.
Ao visitar a maternidade oferecida pelo plano de saúde, a empresária Juliana Carvalho se deparou com salas lotadas de gestantes aguardando vagas: “Teve uma mãe que eu conversei que estava de 40 semanas e 5 dias. A médica falou que já poderia fazer seu parto, mas que não tinha vaga para a internação. Ela voltou para casa para ir no dia seguinte de manhã para lá. Uma outra gestante também estava na mesma situação, mas quando fez o ultrassom o bebê estava muito grande e fizeram o parto no dia. Só que não tinha vaga para o quarto. Eles fizeram o parto e a mãe ficou na recuperação anestésica mais de 12 horas esperando. Diminuiu o número de maternidades e a gente não tem para onde ir”.
O diretor de defesa profissional da Febrasgo, associação que representa os obstetras do país, diz que as queixas também vêm dos médicos. Juvenal Borrielo de Andrade admite que a queda de leitos obstétricos dificulta o trabalho dos profissionais e estimula indiretamente a realização de cesárias. Entre as justificativas apresentadas para o fechamento das maternidades em todo o país, alguns hospitais alegam falta de recursos para manter a ala. Em contrapartida, anunciam investimentos em áreas de alta complexidade que são mais rentáveis, esclarece o diretor da Febrasgo: “Em um leito de uma gestante que acabou de dar à luz, ela vai receber flores, tomar analgésicos e servir vinho do Porto para os convidados. Em um leito para um paciente de pronto-socorro politraumatizado, nesses 3 dias o paciente faz duas tomografias, um monte de exames laboratoriais de sangue, às vezes precisa de um procedimento de dissecção de veia, precisa de um procedimento de uma endoscopia. Ele agrega valor no leito com uma série de outros procedimentos”.
Já o presidente da Federação Brasileira de Hospitais culpa o governo federal pelo congelamento da tabela do SUS. Em entrevista à repórter Carolina Ercolin, Luiz Aramicy ressalta que a única saída são as parcerias público-privadas: “O governo esta míope. Precisa fazer um exame de vista para ver o que está se passando e o cerceamento que existe para as gestantes do Brasil inteiro. Eu, desde que assumi a Federação Brasileira de Hospitais, defendo as parcerias público –privadas. O SUS, da maneira como está, não está prestando a assistência que o brasileiro tem direito pela Constituição”.
Mais de três mil leitos de obstetrícia foram extintos nos últimos três anos no Brasil. Os dados são do Conselho Federal de Medicina.
Reportagem: Carolina Ercolin
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