Grandes empresas buscam executivos especializados em “compliance”

  • Por Tiago Muniz/Jovem Pan
  • 15/06/2017 12h24 - Atualizado em 29/06/2017 00h22
Marcello Casal Jr/Agência Brasil Brasília tem protesto contra o Congresso e a favor da Lava Jato - Caixão contra a corrupção

A palavra de ordem nas grandes empresas é “compliance”. Esse termo em inglês vem do verbo “to comply”, que signfica agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido.

Aplicada ao mundo empresarial, a palavra compliance representa cumprir as regras do jogo, agir corretamente, com ética nas relações de dentro e de fora da corporação.

Parece algo que todo mundo deveria fazer, certo? Só que os esquemas de corrupção misturando grandes empresas e o poder público em várias áreas tem mostrado que não é bem assim.

Nesta quarta-feira, a JBS criou a posição de diretor-global de compliance, função que será desempenhada pelo doutor em direito Marcelo Proença. Depois dos acordos de leniência, a empresa diz que esse é o próximo passo em fazer com que a companhia se torne uma referência global em governança.

A busca por profissionais do gênero está aumentando. No ano passado, a consultoria global de recrutamento de executivos Michael Page não procurou por nenhum diretor específico para a área. Agora, porém, eles estão em busca profissionais para quatro empresas diferentes ao mesmo tempo.

O gerente da consultoria, Felipe Avena, diz que os acontecimentos recentes abriram o mercado para a atuação desse profissional. “É uma área muito negligenciada no passado. Agora, o mercado com essa pressão de mídia, é uma área que tem encontrado um crescimento interessante”, diz.

Depois do furacão da Lava Jato, a Petrobras criou em 2015 uma diretoria específica da empresa de governança e conformidade. Enrolada até o pescoço com problemas de corrupção, a Odebrecht desde o ano passado vem recrutando vários executivos para tentar mudar a imagem do conglomerado perante o mercado.

Mas só o discurso não basta. O mestre em direito pela Universidade de São Paulo (USP) João Carlos Navarro de Almeida Prado diz que não adianta distribuir as regras para os funcionários; é importante fazer com que elas sejam entendidas e utilizadas.

“É fundamental que haja essa capacitação e qualificação dos colaboradores da empresa para saber de que maneira aquelas normas gerais, inclusive normas penais, que estabelecem crimes, podem ser cumpridas por cada segmento da empresa”, diz Navarro.

As práticas de governança começaram a ganhar força no Brasil a partir da lei 12.846/2016a “lei anticorrupção”, assinada por Dilma Rousseff. O texto trouxe a possibilidade de punição administrativa a pessoas físicas e jurídicas pela prática de atos contra a administração pública.

O coordenador do MBA de compliance da escola de direito da FGV do Rio de Janeiro, Salim Saud Neto, explica que as normas de compliance, no entanto, visam à prevenção.

“A função fundamental do compliance não deve ser a de punir quem descumpre com a lei. A função principal deve ser a de criar uma cultura de compliance. O fator prevenção e o fator treinamento são muito mais importantes”, diz Saud Neto.

A ascensão das práticas de compliance depois de escândalos de corrupção não foi um fenômeno exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos, a queda da gigante da energia Enron em 2001 apertou as exigências legais do governo para as empresas.

Reportagem de Tiago Muniz:

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.