Há 30 anos, Chernobyl revelou o impacto devastador da energia nuclear

  • Por Jovem Pan
  • 26/04/2016 11h21
Michael Kötter / Flickr Commons Michael Kötter / Flickr Commons Arredores de Chernobyl

 No dia 26 de abril de 1986, em uma noite de primavera na Ucrânia, a noção que o mundo tinha sobre a energia nuclear mudou drasticamente. Durante um teste de segurança, o reator 4 da usina nuclear de Chernobyl sofre uma explosão. Três quilômetros dali, moradores de Pripyat mal sabiam que, a partir daquele momento, o local se tornaria uma cidade fantasma.

Curiosamente, o primeiro país a reportar níveis altos de radiação foi a Suécia, para onde a nuvem tóxica se moveu. Logo, o mundo já repercutia o acidente na Ucrânia. Mas na então decadente União Soviética do fim dos anos 80, a transparência passava longe.

O secretário-geral do Partido Comunista Mikhail Gorbachev só foi se pronunciar sobre o acidente vinte dias depois. Gorbachev reconheceu o tamanho da tragédia, mas por semanas foi acusado de esconder a dimensão do acidente.

O jornal do Partido Comunista russo Pravda chegou a dizer na época que as notícias sobre Chernobyl eram mentiras do Ocidente. Enquanto isso, 134 pessoas que sofreram da síndrome aguda de radiação eram tratadas, 28 morreram imediatamente, 30 ao longo dos anos e 76 sobreviveram até hoje.

Mas a contagem de mortos é altamente controversa devido às consequências da radiação. A ONU fala em 5 mil. Para Thiago Almeida, da ONG Greenpeace, o número pode chegar a 100 mil: “Há alguns anos, o Greenpeace contratou um estudo e esse estudo veio com números que, por volta de 97 mil pessoas foram mortas, ligadas diretamente ao acidente de Chernobyl. A gente está falando principalmente dos liquidadores”.

Outros acidentes aconteceram desde então, como na usina de Fukushima, após o tsunami no Japão em 2011. Em todas as vezes, a controvérsia sobre o número de mortos só não supera o debate em torno da energia nuclear.

Muitos comparam a situação com acidentes de avião, é um meio de transporte rápido e eficiente, mas quando algo dá errado, muitas pessoas são afetadas. O físico nuclear da USP, José Goldemberg, afirma que os países devem saber exatamente quais são os riscos de ter uma usina nuclear gerando energia: “Aviões caem também, aí morrem 200, 300 pessoas. Ela não pode ser abandonada totalmente, mas ela tem riscos e nós temos que nos conscientizar. Se adotarmos energia nuclear, estamos adotando também os riscos que vêm com ela”.

Segundo Thiago Almeida, do Greenpeace não há outro caminho a não ser encerrar as atividades nucleares para fins energéticos: “O uso de energia nucelar na geração de eletricidade deve ser encerrado. Nem o Brasil ou nenhum outro país do mundo precisa de uma fonte cara, arriscada e com sérios passivos socioambientais e econômicos para as futuras gerações”.

As opiniões são divididas em torno de um tipo de energia. Antes de Chernobyl, o entusiasmo era grande em relação a este modal. Na visão de José Goldemberg, as nucleares não podem ser prioridade na infraestrutura de um país: “O que eu acho que vai acontecer é que não vai ser abandonada, e não deveria ser de um momento para o outro, mas deveria ser utilizada apenas quando não existirem outras opções que sejam mais atraentes”.

Atualmente, as nucleares representam 2,4% de toda a matriz energética brasileira, tendo apenas as usinas de Angra dos Reis. Porém, a situação na Europa é muito diferente. Com menos recursos naturais, países como a França, têm cerca de 75% da energia vinda dos reatores.

Reportagem: Victor LaRegina

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