IBGE completa 80 anos e enfrenta crise de recursos

  • Por Jovem Pan
  • 28/05/2016 13h34
USP Images Economia

 No ano em que o IBGE completa 80 anos, um dos seus Censos mais emblemáticos, o Agropecuário, deixará de ser feito por falta de verbas. A pesquisa aborda questões como a segurança alimentar, a agricultura familiar e informações macroeconômicas, como preço dos alimentos e balança comercial. O orçamento previa R$ 330 milhões, mas o Ministério do Planejamento afirma não ter esse valor disponível.

 No entanto, o estudo jogaria luz a dados importantes que poderiam, por exemplo, ajudar o Brasil na retomada do crescimento pós-crise, avalia o professor e economista da USP, Luciano Nakabashi: “Isso é fundamental para dar base às novas políticas econômicas que são feitas e serão feitas futuramente. A gente também teve problema em 1990 de verbas, mas é prioridade, não se pode deixar de coletar dados que servem de base para muitos estudos e acabam tendo uma influência relevante no tipo de política econômica que vai ser adotada mais para frente”.

O IBGE foi fundado em 1936, com o nome de Instituto Nacional de Estatística (INE). Ao longo dessas oito décadas, ele mostrou um Brasil que deixou de ser um país rural e se tornou urbano, com uma população que quase quintuplicou, passando de 42 para 205 milhões de pessoas, vivendo cada vez mais e tendo cada vez menos filhos.

Acompanhou as mudanças e a diversificação da estrutura da economia do país, que é ainda marcada pela forte concentração nos grandes centros e por intensas desigualdades sociais e regionais. Terezinha Candido viveu parte dessa história como a sua própria. Em 30 anos como técnica, ajudou a construir três censos demográficos e centenas de outros retratos do país com dimensões continentais.

Lembra com saudade da realização da primeira Pesquisa de Orçamentos Familiares, nos idos de 2000, que tabulou informações sobre a composição dos orçamentos domésticos, a partir da investigação dos hábitos de consumo da população: “O pesquisador ficava uma semana na casa da pessoa, pesava tudo, o que vai ser consumido naquele dia. É uma pena que isso esteja acontecendo”.

Segundo Claudia Nascimento, coordenadora sindical e técnica do IBGE, a instituição passa por um processo de sucateamento: “Hoje em dia, por volta de 50% dos trabalhadores do IBGE são temporários, com um contrato que é renovado a cada 30 dias. Isso causa uma instabilidade muito grande na rede de coleta, porque esse trabalho sempre foi feito pelos efetivos. O maior tesouro que o IBGE construiu nesses 80 anos de história são exatamente seu servidores”.

O economista Luciano Nakasashi esclarece que todo país desenvolvido tem institutos sólidos que fazem a coleta de dados econômicos e o Brasil, neste caso, se iguala aos grandes. O professor da FEA ainda traça um paralelo com outras nações importantes, mas menos confiáveis: “Não são todos os países que tem, principalmente com o mesmo nível de renda, um instituto tão importante na coleta de dados. A gente tem confiança no IBGE. Até a Argentina recentemente, a gente não tem confiança nos dados que eles estavam coletando. Alguns pesquisadores até tentaram fazer uma coleta de forma independente. Agora no Brasil não, a gente tem confiança no que o IBGE faz. Apesar de parecer que não é importante e se deixar de coletar os dados não vai mudar o que está acontecendo no país, mas vai dar menos confiança nas pesquisas, vai dar menos confiança para ter bases para tentar melhorar o país lá na frente”.

A Jovem Pan entrou em contato com o IBGE, mas o instituto não possuía um porta-voz para responder à reportagem.

Reportagem: Carolina Ercolin

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