60% dos professores no Brasil são formados a distância; qualidade é inferior
Curso com maior número de ingressantes no Brasil, a pedagogia tem formado a maior parte de seus professores a distância. O problema, no entanto, é que eles possuem desempenho acadêmico pior que os graduados na modalidade presencial, segundo dados de um estudo do Todos Pela Educação divulgado nesta quarta-feira (14).
Em 2017, seis em cada dez alunos brasileiros que iniciaram cursos de graduação voltados à formação de professores estavam na Educação a Distância (EaD). Entre estes, 75% estão abaixo da pontuação 50 no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), numa escala de zero a 100.
Para o gerente de políticas educacionais do Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, esta realidade é grave. “Muito mais da metade dos futuros professores brasileiros estão sendo formados em cursos online, o que é muito grave, porque esses cursos não estão utilizando atividades focadas na prática do ensino, que é muito importante. A gente no Brasil não aceita que um médico, que um enfermeiro, um engenheiro seja formado a distância, porque tem um elemento da prática que é importante. Porque que a gente aceita professor?”, questiona?
Nos países de melhor desempenho do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), a prática do dia a dia na sala de aula é um fator relevante na formação inicial dos professores. O Chile, onde a primeira graduação não pode ser feita a distância, é o país melhor colocado nesta avaliação em toda a América Latina.
Corrêa acredita que no Brasil uma proibição desse tipo não seria o ideal no momento. “Acho que qualquer proibição de uma hora para a outra não é mais adequada. Acho que o ministério pode avançar com algumas políticas públicas de como melhorar a forma que regula esses cursos, que avalia esses cursos, para a gente começar a mudar essa tendência que é tão crítica para o Brasil. O país precisa avançar numa formação de professores presencial, voltada para a prática de ensino. O que vem acontecendo, nos últimos anos, não é isso: a gente não está no caminho certo’, comenta.
Austrália, Canadá e Estados Unidos, por exemplo, são países que permitem a formação inicial de professores a distância. No entanto, o estudo ressalta que em nenhum deles o EaD tem a magnitude que possui no Brasil.
Para o Todos Pela Educação, a qualidade da formação inicial dos professores está diretamente relacionada ao nível de aprendizagem dos futuros alunos. Entre 2010 e 2017, houve aumento de 162% no total de ingressantes em cursos de instituições particulares voltados à docência na modalidade EaD.
Resposta do MEC
Em nota, o Ministério da Educação (MEC) reconhece que os resultados do Enade mostram que “os cursos EaD tiveram resultados mais baixos que os presenciais”, mas afirma que a análise desconsidera “aspectos relevantes”, que fazem “a comparação ser entre uma instituição e outra, e não sobre o fato de o curso ser presencial ou a distância”.
Para o MEC, a oferta de cursos deste modelo “contribui na melhoria da formação de professores em áreas remotas, como a região Amazônica e interior do País, reduzindo as carências de docentes”.
*Com informações da repórter Marcella Lourenzetto
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