A Posição do Brasil no Mundo: A diplomacia com FHC e Lula
Na primeira parte da série de reportagens nós discutimos a posição que o Brasil pode ocupar na política internacional.
Durante o boom das commodities dos anos 2000 e o período de prosperidade econômica foi possível projetar o País como potência emergente.
O problema é que veio a crise econômica, além dos escândalos políticos em série que minaram as pretensões de nos elevar à condição de grande potência.
Hoje, o Brasil se coloca de forma muito mais tímida no plano internacional, como explica o professor Guilherme Casarões, que é vice-coordenador da graduação em Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas: “no Governo Temer, tanto o presidente quanto o chanceler Aloysio Nunes, voltaram à condição de potência média que seria a opção possível dada à condição econômica e da crise política brasileira”.
As mudanças na política externa brasileira começaram no final do segundo Governo Lula, na verdade. Dilma Rousseff, que não tinha o menor interesse no assunto, também determina essa guinada que se consolida de forma clara com a chegada de José Serra ao Itamaraty.
As pretensões de influenciar grandes questões internacionais, como o conflito israelo-palestino, e se tornar um grande investidor na África murcharam.
“Solidariedade pragmática”
E o ex-governador de São Paulo já dava o recado em seu discurso de posse no Itamaraty: “solidariedade estreita e pragmática para com os países do Sul do planeta Terra continuará a ser uma diretriz essencial da diplomacia brasileira. Mas estratégias corretas, não as que chegaram a ser praticadas com finalidades publicitárias, escassos benefícios econômicos e grandes investimentos diplomáticos”.
“Eu acho que essa leitura é equivocada. A operação com o Sul vai muito além do comércio, tem a ver com a capacidade de promoção do desenvolvimento em que o Brasil se destaca. Ao contrário da China e Índia. O Brasil construiu a tese de confiança com alguns países africanos durante os anos Lula e Dilma e ela deve ser mantida se a gente realmente aspira a algum lugar mais interessante nas relações internacionais, por assim dizer”, diz Casarões.
Na prática, essa situação se alinha com a tese levantada pelo professor Andrés Malamud, da Universidade de Lisboa. Ele aponta que a ascensão do País no cenário global entre os anos 1990 e 2000 teve relação direta com a chamada diplomacia presidencial: “a gente muitas vezes pensava que era o Itamaraty, que era chancelaria eficiente e profissional do Brasil, e parcialmente era, mas o mais importante eram Fernando Henrique Cardoso e Lula, que conseguiram colocar o Brasil em um patamar o qual o País sozinho, com presidentes normais, não chegava”.
Perda de influência até na região
O que o especialista em Relações Internacionais quer dizer é que FHC e Lula tinham um apreço especial por política externa e investiram muito de seus capitais políticos para projetar o país, que hoje o país vive uma situação em que o Governo federal tem como preocupação principal salvar a própria pele nos intermináveis escândalos de corrupção.
As posições do chefe da chancelaria e do presidente da república também não desfrutam da mesma sintonia que existia no passado. E com isso, o Brasil não tem mais capacidade de influenciar sequer temas de sua própria região. “O ano passado assinou-se o tratado de paz na Colômbia, houve encontro onde estavam todos os presidentes da região vestidos de branco, e o Brasil não estava presente”, aponta Malamud.
Houve também uma virada de postura importante em questões como a crise da Venezuela. O que para o professor Andrés Malamud não é o ponto principal a ser discutido: “a Venezuela deve ao Brasil muito dinheiro. O Brasil fala contra, mas não intervém. Além do discurso, não é a favor e
Com isso, as pretensões de ascender à categoria de grande potência parecem enterradas. Pelo menos nesse momento. Mas como será o debate em 2018?
Essa será a discussão do terceiro e último capítulo desta série que vai ao ar nesta sexta-feira (20) no Jornal da Manhã.
Confira a segunda parte do especial do correspondente da Jovem Pan na Europa, Ulisses Neto, sobre a posição do Brasil no mundo de hoje:
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