Abuso sexual infantil: mais de 80% dos casos tem agressor próximo da vítima

Especialista reforça a importância da Educação Sexual, que é diferente de ensinar a fazer sexo e serve para que as crianças e adolescentes aprendam sobre o próprio corpo, segurança e consentimento

  • Por Jovem Pan
  • 18/05/2022 13h20
EFE/Will Oliver EFE/Will Oliver Casos de estupro e exploração sexual pode culminar em pena de até 15 anos de prisão

No Brasil, mais de 80% dos casos de abuso sexual infantil são cometidos por pessoas próximas das vítimas. De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos em quase 60% dos registros a vítima tem 10 e 17 anos e em cerca de 74% dos casos a violação é contra meninas. Bia Pucci é psicopedagoga e especialista em agressão sexual infantil. Ela lembra que o olhar dos pai é extremamente importante. Os responsáveis devem ficar atentos às mudanças de comportamentos dos pequenos. A especialista destaca que falar sobre educação sexual é completamente diferente de ensinar sobre relação sexual e que há diversas formas de abordar o tema.

“As pessoas acreditam que educação sexual é ensinar alguém a fazer sexo. Isso não precisa ensinar. Todo mundo vai saber ou vai escolher, vai ter um momento disso. Educação sexual vai muito além disso, vai de você conhecer seu corpo, de você nomear de forma correta as partes do seu corpo, de você entender sobre higiene, sobre consentimento”, afirma a especialista. Esta quarta-feira, 18 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil. E, por meio da campanha Maio Laranja, o governo pretende promover a conscientização sobre o combate a esse tipo de crime.

A empreendedora Lívia Montezano tem 32, entre os 5 e 6 foi abusada sexualmente por um primo 10 anos mais velho. Na mente de Lívia, as lembranças são difusas. Por ser muito pequena, ela não entendia exatamente o que estava acontecendo, mas sabia que algo não estava certo. “Eu tive uma primeira percepção de que tinha alguma coisa errada durante o abuso, porque eu senti dor, me machucou, e ali eu percebi que alguma coisa não podia estar certa ou que tinha alguma coisa errada com a brincadeira, mas percebi, entendi, e como adulta e conhecendo o termo conceitualmente, já realmente depois de bem mais velha, eu diria já depois de adolescente, que eu entendi realmente o que tinha acontecido”, relata. Lívia só conseguiu falar pela primeira vez sobre o assunto com o marido depois que teve a filha Nina, hoje com 5 anos. A empreendedora diz que começou a sentir muito medo de deixar a filha com outras pessoas. E entendeu que isso era uma consequência do trauma tinha vivido.

O filho da pedagoga Cláudia Marra também foi vítima de violência sexual. Aos 13 anos ele foi abusado pelo segurança da rua, que era próximo de todos na região. A mãe conta que o filho conseguiu filmar a segunda vez em que o agressor tentou cometer o crime. E, com essas provas, conseguiram a condenação do pedófilo. Cláudia ressalta a importância de conscientização sobre todas as formas de abuso sexual. “Eu acho bom alertar a todos que não basta o sexo consumado para ser considerado pedofilia, abuso sexual, é um beijo, um toque, já é o suficiente para a gente entender que houve um abuso sexual”, diz.

O que os dois casos tem em comum, além das tristes histórias de abuso sexual, é que ambos não foram cometidos por pessoas desconhecidas. Isso não é uma simples coincidência. O advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos, destaca a diferença entre abuso e exploração sexual. Os dois são considerados crimes. Em caso de estupro e exploração sexual pode culminar em pena de até 15 anos de prisão. “Tanto estupro de vulnerável quanto a exploração sexual infantojuvenil, as penas são mais altas, ultrapassam os 10 anos. Nós temos essa consideração também de crimes hediondos, mesmo o estupro de vulnerável e a exploração sexual infantojuvenil. Já a importunação sexual tem penas bem mais leves”, diz.

*Com informações da repórter Camila Yunes

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