Ações anunciadas para combater a violência no RJ são factoides, diz especialista

  • Por Jovem Pan
  • 22/07/2017 09h46 - Atualizado em 22/07/2017 10h52
Jotta Mattos/Estadão Conteúdo Policiais fazem operação no Morro da Mangueira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, contra o tráfico

Reforço de agentes da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal, milhões de reais para pagar insumos, como combustível e munição, criação de comando conjunto das Forças Armadas no Rio de Janeiro. Para especialistas ouvidos pela Jovem Pan, as últimas ações dos governos estadual e federal não vão estancar a crise fluminense.

“Isso são os chamados factoides. As reuniões de última hora para dar uma resposta midiática para a sociedade e não é levado nada a lugar nenhum”, disse Daniel Cerqueira é pesquisador do IPEA, que coordenou o Atlas da Violência 2017.

“Não adianta, é enxugar gelo. O paciente está na UTI e estamos dando o medicamento errado”, criticou Ricardo Gennari, professor da Fundação Instituto de Administração e especialista em segurança, inteligência e estratégia.

Para eles, nenhuma ação pontual ou a curto prazo será eficaz no estado de calamidade vivido pelo Rio.

Segundo Gennari, os paliativos políticos devem ser substituídos por planejamento e centralização da responsabilidade: “teria que ter hoje um ministério em que a gente tivesse uma política de segurança pública que saísse do Governo federal e implementada nos Estados”.

E no sentido estrutural, o que é feito não é cumprido. Como os Planos Nacional de Segurança Pública, por exemplo. Enquanto isso, a situação de violência só piora.

Nesta sexta, mais um policial morreu no Rio de Janeiro. Ele foi baleado na barriga quando saía de casa, na Baixada Fluminense. Já chega a 90 o número de policiais assassinados no Estado.

Também nesta sexta-feira (21), o prefeito Marcelo Crivella cancelou agenda na zona norte por questões de segurança.

O grau de descontrole, que vem há anos se agravando, se tornou latente nesta semana.

Após reunião no Palácio do Planalto, o governador Luiz Fernando Pezão anunciou como novidade o envio de 800 novos homens da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal para o Estado. O efetivo, na verdade, já está trabalhando há duas semanas.

Para o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a evidente falta de lideranças políticas que encaminhem o problema agrava o quadro.

Daniel Cerqueira, que coordenou o Atlas da Violência – um mapeamento detalhado da violência em todo o país -, propõe a refundação da polícia no Rio, além de planejamento: “mas isso não é suficiente, porque pode quebrar elo da violência em curto prazo, mas não garante a sustentabilidade em longo prazo”.

E mesmo assistindo a incompetência dos órgãos em lidar com a questão, a população não reage porque tem medo. E o ciclo de violência continuaria.

Enquanto isso, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Sergio Etchegoyen, garantiu que está trabalhando com ações pontuais que vão trazer os resultados que a sociedade do Rio de Janeiro precisa.

*Informações da repórter Carolina Ercolin

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