‘Ainda não há evidência de que a variante Kraken cause doença mais grave’, diz infectologista
Nova cepa do coronavírus foi identificada pela primeira vez no Brasil na última quinta-feira; segundo a OMS, essa é a versão mais transmissível do vírus
O primeiro caso da variante XBB.1.5 do coronavírus foi identificado na última quinta-feira, 5, em Indaiatuba, interior de São Paulo. A amostra analisada pela Rede de Saúde Integrada Dasa foi coletada em 9 de novembro em uma paciente de 54 anos. A cepa, que é uma subvariante da Ômicron, é apontada pela Organização Mundial da Saúde como a mais transmissível já encontrada até o momento no mundo. Por isso, a subvariante já vem sendo apelidada de “Kraken”, em alusão a um monstro marítimo da mitologia nórdica. Para falar sobre o assunto, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou ao vivo nesta sexta-feira o médico infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Renato Kfouri. Segundo ele, não há evidências até o momento de que a Kraken possa provocar Covid-19 mais grave que variantes anteriores. “O Brasil já começa a registrar os primeiros casos e [ela, a Kraken] vai, provavelmente, ser a protagonista entre nós. Até o momento, não há nenhuma evidência de que ela [a Kraken] cause doença mais grave. Isso é importante destacar. Nos Estados Unidos, onde ela já tem mais de um terço dos casos, na China também, não há mais gravidade. Especialmente nos indivíduos vacinados. Então, continua valendo tudo o que a gente já sabe. Vacinação em dia é a garantia de você estar protegido contra a evolução mais grave da Covid-19, inclusive com essa nova variante. Mas [a nova variante] aumenta a transmissão e, sempre que aumenta a transmissão, você tem um potencial de ter nova onda, dos indivíduos que não respondem às vacinas acabarem sendo internados, de aumentar um pouco os óbitos naqueles imunocomprometidos. Toda onda, mesmo para indivíduos vacinados, que não tem tanta gravidade, acaba impactando de alguma maneira parte da população”, afirmou o médico.
Kfouri ainda explicou que a Kraken é uma subvariante da Ômicron, presente no mundo há mais de um ano. “A gente tem acompanhado o surgimento de variantes e suas subvariantes. A Ômicron parece que veio para ficar, estamos desde novembro de 2021 com a mesma variante, a Ômicron, claro que com suas subvariantes, BA.1, BA.4, BA.5, agora a Kraken. Quer dizer, a ideia do vírus, o censo de sobrevivência é esse. Se ele infecta todo mundo e continua igual e tem muita gente vacinada, ele não consegue se perpetuar. A única saída para o vírus é modificar-se e continuar enganando o nosso sistema imunológico e continuar contaminando as pessoas. E assim ele vem fazendo. A cada variante nova que surge, ele ganha um aspecto maior de transmissão, por isso ele se perpetua, e uma vai substituindo a outra. Não existe mais a alfa, nem a beta, nem a gama, nem a delta. Agora é só Ômicron. Essa é a última que apareceu com potencial de transmissão muito grande e que vai substituir a BA.4 e a BA.5, provavelmente, mundialmente”, disse.
Segundo o infectologista, como a variante Ômicron “veio para ficar”, se mostrando resistente desde o final de 2021, as novas vacinas que serão aplicada a partir de 2023 já possuem defesa específica para a variante. “São vacinas com Ômicron dentro, são vacinas bivalentes. Foi possível fazer isso porque a Ômicron se estabeleceu há mais de um ano, ela se fixou, essa mutação da Ômicron, e as subvariantes parecem, até agora, serem todas sensíveis a essa variante Ômicron que está dentro da vacina. É uma corrida a qual estarmos sempre atentos mesmo, porque pode acontecer de surgir uma outra variante, que não a Ômicron, e as vacinas precisarem ser adaptadas. Mas, no momento, as vacinas que dispomos hoje continuam muito boas para a prevenção da forma grave da doença, mas muito ruins para prevenção da forma leve. Hoje, todo mundo que se infecta são indivíduos vacinados. Ou seja, a vacina não tem conseguido prevenir a infecção, mas tem prevenido os seus desfechos mais graves. E, agora, coma chegada da vacina bivalente, nós vamos ampliar ainda mais essa proteção”, afirma.
O infectologista ainda reforçou a necessidade de que pessoas que apresentam quaisquer sintomas gripais utilizarem máscara de proteção, mesmo que não tenham certeza se é gripe, Covid-19, resfriado ou outra doença. Para ele, a pandemia ensinou que os cidadãos devem proteger os demais, não passando doenças, no transporte público, no trabalho, na família, com o uso do equipamento de segurança. Kfouri ainda sinalizou a importância de cuidado extra para pessoas que estão em maior risco diante do vírus, como gestantes, idosos, imunosuprimidos, pacientes com câncer, entre outros, que essas pessoas devem evitar ainda mais aglomerações e utilizar máscara sempre que necessário.
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