Após #BlackoutTuesday, modelos expõem atos racistas na indústria da moda

  • Por Nanny Cox
  • 15/06/2020 06h00
  • BlueSky
Reprodução Thayná ainda lembra que pode ser considerada privilegiada diante da indústria da moda por ter aparência mais próxima à europeia

A modelo Thayná Santos viu com irritação marcas com as quais ela já trabalhou e viu atitudes racistas se juntando ao movimento Blackout Tuesday — ou terça-feira do apagão.

Quem aderiu à hashtag publicou nas redes sociais um quadrado preto, demonstrando apoio à luta contra o racismo e abrindo espaço sobre o Vidas Negras Importam.

A modelo então expôs no Instagram episódios em que foi deixada de lado por dois grandes nomes da moda brasileira, Reinaldo Lourenço e Gloria Coelho. Thayná ainda lembra que pode ser considerada privilegiada diante da indústria da moda por ter aparência mais próxima à europeia.

“Eu sinto que eu sou bem privilegiada ainda por não ser retinta. A minha cabeça era ‘o que tem de errado comigo?’, ‘será que estou fazendo algo de errado?’ porque a gente se culpa.”

As denúncias de Thayná encorajaram mais exposições de atos racistas na indústria da moda e ela se uniu às colegas Camila Simões, Cindy Reis e Natasha Soares. Juntas no Movimento Pretos na Moda, as quatro reúnem relatos de hiperssexualização do corpo preto e tentativas de esconder a negra em meio a brancas.

“Perguntando porque minha virilha era mais escura que o resto do corpo. Isso todos os profissionais me olhando e eu não conseguindo dizer absolutamente nada,” relatam. “Eu no fundo como se fosse figuração e eu me senti desrespeitada e desvalorizada. Essa maneira rude de exclusão, tentar toda a enfase para a branca que estava trabalhando comigo.”

As integrantes do movimento Pretos na Moda contam que demoraram a buscar os próprios direitos com medo de serem estereotipadas como “barraqueiras” e “raivosas”. Elas lembram que há anos não têm o mesmo tratamento que as brancas, mesmo com movimentos por inclusão.

As profissionais recebem cachês menores e têm as oportunidades reduzidas por causa do racismo, reforçado diariamente por comentários ofensivos e a falta de pretos em cargos de liderança.

A modelo Camila Simões afirma que a moda é uma indústria de herdeiros elitistas. “Eles lidam com a gente como se fossemos descartáveis porque sempre tem a panelinha branca, elitista. A panelinha, o boicote, os valores baixos pagos para gente.”

Com as denúncias, a modelo Natasha Soares acredita que o futuro será melhor. “O movimento que a gente está causando agora não tem mais volta. O mercado não tem mais opção do que era existe, de uma forma geral. Essa opção da gente regredir novamente não existe.”

Em uma mensagem enviada pelo Instagram de Thayná Santos, a designer Gloria Coelho disse que, a partir de agora, está se comprometendo a incluir mais modelos pretas nos desfiles.

Além do movimento criado pelas modelos, outros profissionais do ramo se juntaram no Instagram Moda Racista.

A Riachuelo suspendeu o contrato com a agência de publicidade Big Man, após o dono, Ralph Choate, ter comentários racistas atribuídos a ele em denúncias enviadas ao Moda Racista.

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