Após dois anos e meio preso, Marcelo Odebrecht deixa prisão no Paraná
Em um país onde a sensação de impunidade historicamente impera, uma das prisões que levaram mais holofotes à sua volta, deixou o brasileiro com uma ponta de esperança para a modificação de um cenário corriqueiro.
A manhã de 19 de junho de 2015 se tornava um marco e abalava o costumeiro dito, de que o crime compensa.
O bairro era o do Morumbi, região nobre da capital paulista. Ainda estava escuro, o sol timidamente despontando. A movimentação de policiais e agentes despertava curiosidade da discreta vizinhança de um luxuoso condomínio fechado. Quando a campainha do número 319 de uma mansão de 3 mil metros quadrados foi tocada, uma página importante da justiça brasileira começava a ser escrita.
O herdeiro de uma das maiores construtoras do planeta, Marcelo Odebrecht fazia exercícios na academia da residência, quando foi interrompido. Naquele instante, o empreiteiro, condenado a 19 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa, recebia voz de prisão.
Algo impensável, inimaginável; considerado intocável, ele foi levado a um auditório na sede da Polícia Federal de São Paulo já se cercando de um corpo de advogados, distribuindo ordens e exigindo providências. Nada adiantou. Foi transferido para a capital do Paraná, Curitiba.
A partir dali dava início ao enfrentamento do maior pesadelo de sua vida: a cadeia.
Sempre adulado por uma ampla maioria, especialmente autoridades, o “Príncipe” como era tratado pelos dirigentes das maiores empreiteiras do País, dono de uma fortuna superior a R$ 13 bilhões teria que vivenciar uma nova realidade.
Ao contrário da pompa de seu império que transbordava requinte passaria a habitar num exíguo espaço onde a luz que entrava é a do vão das grades da cela. Com ele, dois outros executivos. Dormia na cama de cima de um beliche.
O cardápio ao invés do sofisticado caviar, a marmita, composta em geral por arroz, feijão, macarrão e uma carne. Exercícios em um estreito corredor faziam parte de sua rotina no cárcere.
A pressão para que delatasse era cada vez maior, inclusive por parte de seu pai, Emílio Odebrecht, porém Marcelo se recusava.
Os dias foram passando e as agruras da detenção, começavam a modificar seu posicionamento e principalmente seu pensamento, até que em novembro de 2016 ele se rendeu e fechou a delação premiada, reduzindo sua pena para 10 anos, sendo 2 anos e meio em regime fechado.
O magnata começou a discorrer, falou sobre propinas, da relação com o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e que o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci preso em setembro de 2016, era quem intermediava as negociações das vantagens indevidas.
Na chamada “delação do fim do mundo”, ele e outros 77 executivos do grupo admitiram ter pagado R$ 10,5 bilhões em propina a 400 políticos durante nove anos.
As revelações levaram ao efeito dominó e o Ministério Público Federal instaurou 83 inquéritos somente no Supremo Tribunal Federal.
Marcelo Odebrecht afirmou que Lula e a ex-presidente da República Dilma Rousseff tinham conhecimento do esquema.
Em um dos depoimentos da Lava Jato ao juiz federal Sérgio Moro, ele disse que a arena Corinthians, popularmente chamada de Itaquerão foi um presente à Lula.
A multa imposta no acordo de delação premiada foi de R$ 73,3 milhões.
A partir de agora, em São Paulo, sai de cena o estreito beliche, a singela marmita e a rotina de exercícios num corredor improvisado e o buraco no chão usado como vaso sanitário.
Entra no palco o cotidiano numa mansão com piscina, campo de futebol e uma academia recém-reformada para atender às novas necessidades do empresário. Com tornozeleira eletrônica.
Marcelo progride ao regime domiciliar fechado, mas só volta a pisar na rua sem qualquer tipo de restrição em 2025 quando terminam os prazos acordados com a força-tarefa da Lava Jato.
Terá uma vida regada de mordomias e regalias, todavia com pleno conhecimento de que a liberdade não tem preço.
*Informações do repórter Daniel Lian
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