Atos em Brumadinho relembram vítimas do desastre da Vale
Há exatamente um ano, às 12:28, se rompia em Brumadinho, Minas Gerais, a barragem da mineradora Vale. Doze milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério devastavam uma área equivalente a 304 hectares. Em três minutos, tudo que estava abaixo da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, foi completamente tomado pela lama. Os resíduos tóxicos de mineração engoliram casas, fazendas e cursos de água.
O coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas, tenente-coronel Flávio Godinho, afirma que, hoje, o estado está mais preparado para lidar com situações como aquela.
“Nós aprendemos com o erro. E esse aprendizado nos tornou mais fortes. Hoje estamos muito mais preparados para enfrentar qualquer crise em nosso Estado.”
De acordo com um relatório encomendado pela Vale, foi o acúmulo de água e a falta de drenagem que causaram a tragédia. Após o desastre, o Brasil proibiu a construção de novas barragens a montante, como a de Brumadinho, e ordenou o descomissionamento das existentes. Elas são mais baratas, mas menos estáveis.
Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), em agosto do ano passado, havia 61 barragens desse tipo, 41 delas em Minas Gerais. Desde a tragédia, a Vale vem aumentando o investimento em “processamento de minério a seco”. O processo não utiliza água e não há necessidade de barragens.
Após o desastre em Brumadinho, a Defesa Civil elaborou planos de fuga para vilarejos e cidades localizadas perto de barragens com risco de desabamento. Bombeiros, soldados e policiais começaram a treinar moradores de zonas de risco para um eventual novo rompimento. No entanto, mais de um ano após o desastre, apenas metade das pessoas foram treinadas. A ideia é que todo habitante saiba exatamente para onde ir depois de ouvir a sirene de emergência. Em Brumadinho, porém, a sirene não tocou.
O coronel Robespierre, do Corpo de Bombeiros, que comanda as operações de salvamento em Brumadinho, afirma que o maior aprendizado está sendo lidar com as famílias.
“A cada ocorrência que nós atendemos, aprendemos um pouco. Essa, especificamente, está trazendo pra gente um detalhe interessante, o trato com as famílias dos desaparecidos. Esse é um desafio que nunca trabalhamos, você sempre atende a vítima e se perde aí. Aqui não, você continua em contato com as famílias. Essa é uma experiência que está fazendo a diferença.”
DF:00’59” – a diferença
O sofrimento na região de Brumadinho foi além da perda de entes queridos. O impacto econômico também é doloroso. A agricultura e a pesca nas áreas atingidas foram proibidas. O rio Paraopeba ficou contaminado com os rejeitos, o que tornou a água inutilizável para a irrigação, e os peixes, inseguros para a alimentação.
Cerca de 100 mil pessoas que vivem a um quilômetro do rio recebem R$ 1 mil mensais a título de ajuda emergencial. O valor vai cair para R$ 500 reais próximo mês. 270 pessoas morreram no desastre, 11 continuam desaparecidas.
O distrito de Macacos, em Nova Lima, a 25 km de Belo Horizonte, é cercado por várias barragens, e uma delas foi colocada em nível máximo de alerta no dia 16 de fevereiro de 2019. Placas de “rota de evacuação” foram instaladas nas ruas, indicando o caminho mais seguro. A dona Sebastiana vive em um hotel em Macacos desde que teve que abandonar a casa onde morava, que fica em uma área de risco.
“Então, estamos esperando a Vale. Eles disseram que vão fazer um acordo, vão indenizar a gente. Eu estou pedindo a Deus que esse dinheiro dê para comprar outra casa em Macacos, não consigo morar fora daqui.”
Hellen Jesus de Souza, ex-funcionária de um bistrô, conta que o lugar fechou porque não há movimento, já que os turistas têm medo de ir à cidade e a barragem romper:
“A Vale está com planos, proposta de revitalização na cidade, de melhorias, mas a gente ainda tem medo. O turismo tem medo de chegar aqui e a barragem romper.”
Hoje, em Brumadinho, uma série de atos vai homenagear os mortos na tragédia. Haverá um minuto de silêncio exatamente ao meio dia e 28. Também vão acontecer celebrações religiosas e um minuto de aplausos às vítimas.
* Com informações do repórter Afonso Marangoni.
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