Aulas online não garantem resultados para crianças em alfabetização, dizem especialistas

De acordo com eles, desenvolvimento motor está diretamente ligado à parte cognitiva

  • Por Jovem Pan
  • 01/04/2021 12h04
Felipe Rau/Estadão Conteúdo Quanto a volta das aulas presenciais, os educadores dizem que é extremamente necessária, mas de forma gradual, atendendo protocolos

Imagina um dos momentos mais importantes da aprendizagem escolar, quando se está reconhecendo as letras, os números, sendo duramente impactado pela pandemia. A análise é de uma pesquisa feita por professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro com apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Eles entrevistaram mais de dois mil educadores de escolas públicas e privadas no Sudeste e Nordeste: 78% dos professores relatam que crianças da pré-escola estão aprendendo menos do que deveriam. A Nathalia é pedagoga e professora da Educação Infantil em São Paulo e observa dificuldades no ambiente virtual. “A gente nota uma defasagem muito grande em relação ao desenvolvimento das crianças. Cognitiva, na linguagem, em todos os aspectos.”

A pesquisa da UFRJ também mapeou o perfil socioeconômico das famílias no contexto das aulas remotas. Entre a classe média e alta se constatou que o envolvimento frequente dos alunos com as atividades ficou em cerca de 40%. O resultado é pior entre estudantes de famílias vulneráveis, que muitas vezes não tem condições plenas de acesso. Um dos coordenadores da pesquisa, Tiago Bartholo, alerta que os pequenos precisam de ajuda de um responsável, o que nem sempre acontece, especialmente nas famílias mais pobres. Para ele o tema da desigualdade deve ser prioridade para os governos.

“Antes do período da pandemia, essa era uma temática bastante relevante porque observamos nos últimos 20 anos uma melhora lenta dos indicadores de aprendizado, mas não observamos diminuição na desigualdade. Se essa já era uma questão antes da pandemia, essa é uma questão que deveria estar na frente do debate nacional.” A professora Mariane Koslinski, outra coordenadora do estudo, diz ainda que quase metade dos pais entrevistados relataram quebra da rotina de atividades ao ar livre, o que impacta no desenvolvimento. “Esse desenvolvimento motor está altamente relacionado com o desenvolvimento cognitivo. O fato dessas restrição de movimento também é preocupante. Elas andam juntas. Se parou de se desenvolver no motor, vai afetar a parte cognitiva.” Quanto a volta das aulas presenciais, os educadores dizem que é extremamente necessária, mas de forma gradual, atendendo protocolos e em um momento seguro.

*Com informações da repórter Carolina Abelin

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