Rio Paraopeba ainda não se recuperou após rompimento de barragem, mostra relatório

  • Por Jovem Pan
  • 24/01/2020 06h08
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Edmar Barros/Estadão Conteúdo Segundo especialista, Rio Paraopeba "está em coma"

Adelson vê a vida passar devagar como as águas barrentas do Paraopeba. Foi numa sexta-feira como a de hoje  em que terra e o rio de onde ele tirava o sustento praticamente desapareceram: “Aí parou tudo, por que quem vai querer comprar mercadoria do rio? Ninguém compra”, afirmou.

A lama contaminada da barragem da Vale em Brumadinho avançou quilômetros Paraobepa adentro, levando vidas e arrastando tudo pela frente. O rejeito de minério, tóxico, contaminou a terra e a água.

O seu Pedro ainda mora na comunidade do Parque da Cachoeira e lamenta: “Tinha uma mina boa aqui embaixo, tinha muita coisa boa, mas acabou tudo.”

Um ano depois do desastre, o cenário é desolador. A constatação é de um relatório da fundação SOS Mata Atlântica. Os pesquisadores percorreram os quase 400 quilômetros do rio, afetado pelo rompimento da barragem da Vale em 25 de janeiro de 2019.

De acordo com os cientistas, a água está imprópria para consumo por toda a extensão. Em 11 pontos de coleta, os rejeitos e contaminantes presentes na água não permitem sequer a presença de vida aquática.

Nas comunidades ribeirinhas, o abastecimento só é possível com caminhões-pipa carregados de água mineral. De acordo com a coordenadora da expedição, Malu Ribeiro, o Paraopeba é um rio praticamente morto: “Embora ele tenha recuperado o oxigênio dissolvido, que é o principal bioindicador, esse materiais pesados impedem a presença de vida aquática.”

A situação do rio se agrava com as chuvas das últimas semanas e quem depende da pesca não sabe o que fazer.

Sem poder trabalhar, o Wenis usa o barco para ajudar os pesquisadores que monitoram a qualidade do Paraopeba: “É, hoje eu estou como pesquisador, ajudando. Não posso fazer mais nada.”

Apesar da devastação, a pesquisadora da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, ainda tem esperança de ver o rio recuperado: “Está em coma, em uma UTI, precisando de todos os cuidados.”

A Vale instalou barreiras de contenção e estações de tratamento em cidades ao longo do Paraopeba. Segundo a mineradora, mais de 3 bilhões de litros de água foram tratados antes de chegar ao rio.

Dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas ainda mostram turbidez e concentração de metais acima do permitido. O uso da água do Paraopeba segue suspenso no trecho entre Brumadinho e Pompeu por tempo indeterminado.

*Com informações da repórter Nanny Cox.

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