Com conflito entre EUA e Irã, Johnson corre risco de cair em mesma armadilha que Tony Blair

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan
  • 06/01/2020 07h11 - Atualizado em 06/01/2020 08h33
EFE/EPA/IAN LANGSDON Boris No Reino Unido, Boris Johnson começa a preparar o terreno para entregar o Brexit no final deste mês

A crise entre Estados Unidos e Irã colocou a Europa em uma posição complicada, onde dificilmente a região sairá ganhando alguma coisa. Reino Unido, França e Alemanha divulgaram um comunicado conjunto na noite do domingo (5) pedindo que o ciclo de violência atual seja interrompido.

Está claro, no entanto, que o governo de Teerã inevitavelmente fará alguma retaliação ao assassinato do general Qasem Soleimani. As demonstrações públicas com centenas de milhares de manifestantes no funeral do militar no Irã fortaleceram essa expectativa.

Oficialmente, os europeus não condenaram a ação militar unilateral dos Estados Unidos no Iraque. Até porque o histórico de Soleimani não permite espaço para lamentações. A questão é a validade estratégica da ação norte-americana.

Na prática, a administração Trump deixou seus aliados em uma péssima posição, exceções feitas a Israel e talvez Arábia Saudita. Os europeus tentavam salvar o acordo nuclear fechado em 2015 com o Irã, que já estava moribundo desde que Trump retirou seu país do entendimento.

No domingo, os iranianos anunciaram que também não vão mais cumprir os termos acertados cinco anos atrás, que impunham limites para armazenamento e enriquecimento de urânio.

Também neste final de semana o parlamento iraquiano decidiu aprovar uma recomendação para que o governo expulse todas as tropas estrangeiras de seu território. Os Estados Unidos mantém cerca de seis mil homens no país atualmente. Já os britânicos contam com 1400 militares e civis operando no país.

Além do risco iminente contra essas pessoas que estão na região, o governo britânico ainda precisa lidar com outras pressões. A ação militar americana que matou o general Soleimani foi absolutamente unilateral.

Não houve sequer a cortesia de avisar aliados próximos, como os britânicos. Isso causou constrangimento especial para Boris Johnson, que estava de férias no Caribe e só voltou para Londres no último domingo.

Há um estigma muito pesado na política britânica, deixado por Tony Blair, sobre como o governante local lida com o líder americano. São aliados de primeira hora, ou serventes de luxo aos interesses de Washington?

Johnson corre o sério risco de cair na armadilha que manchou duramente a carreira de Tony Blair, por conta de episódios como as guerras do Iraque e do Líbano.

E no mais, pelo menos na Europa, ninguém está interessado em escalar a tensão no Oriente Médio neste momento em que o continente já tem problemas de sobra para lidar.

No Reino Unido, Boris Johnson começa a preparar o terreno para entregar o Brexit no final deste mês. Já na França, Macron tem uma dor de cabeça que não passa causada pelas manifestações contra a reforma da previdência local.

Porém, nada disso importa para Donald Trump – que ao menos conseguiu mudar o debate na imprensa internacional, que andava bastante focado no processo de impeachment contra ele.

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