Como o PSG de Neymar pode driblar o “fair play” financeiro
Neymar é apresentado oficialmente nesta sexta-feira (4) pelo PSG. O encontro com a torcida está marcado para este sábado à tarde.
Não se fala de outro assunto na França nos últimos dias. Até os programas de debate político no país têm tratado da contratação com as mais diversas abordagens, desde a arrecadação tributária, até quanto um cidadão comum francês teria que trabalhar pra ganhar o mesmo que o Neymar.
Se você ficou curioso, quem recebe um salário mínimo na França hoje teria que trabalhar 1.173 anos pra juntar o que o craque da seleção brasileira vai levar apenas nos primeiros 12 meses do seu “plano de carreira muito ousado” de cinco anos.
A Europa ainda não está conformada com a cifra paga pelo brasileiro. 222 milhões de euros é mais que o dobro da maior transação do futebol até então, paga pelo Manchester United no ano passado para contar com os serviços do volante francês Paul Pogba.
As discussões sobre como o mercado de transferências do futebol estava ficando cada vez mais distorcido já aconteciam há algum tempo, mas a expectativa é que agora o Paris Saint-Germain tenha criado um novo patamar de negociações. Não existe mais multa rescisória que não possa ser paga.
Na teoria, as regras de fair play financeiro da UEFA foram criadas há sete anos para limitar justamente o que times como PSG, Chelsea e Manchester City fazem ao superar adversários com uma fonte infinita de dinheiro de origem no mínimo controversa.
O Barcelona, que aniquila seus adversários na Espanha com práticas mais mundanas mesmo, negociando contratos de TV que prejudicam os pequenos e só favorecem os grandes, pressiona a UEFA para investigar a transação que levou uma de suas maiores estrelas a contragosto. A liga espanhola fala que é impossível que as contas do PSG fechem.
Ontem, o técnico alemão do Liverpool, Jurgen Klopp, chegou a dizer que as regras do fair play financeiro viraram apenas uma sugestão e não uma imposição.
Mas a verdade é que o buraco é muito mais embaixo e depois de levar uma rasteira dos xeiques radicados em Paris, o mundo do futebol está fingindo que acordou pro fato de que o fair play financeiro da UEFA está cheio de brechas muito convenientes para os clubes.
Por exemplo, as regras dizem que um time não pode gastar muito mais do que arrecada – algo que o Chelsea da Inglaterra faz desde que foi comprado por um bilionário amigo de Vladimir Putin. O prejuízo máximo que um clube europeu pode dar é de 30 milhões de euros num período de três anos.
Isso significa que por mais que a UEFA quisesse ela não poderia fazer nada contra o PSG agora. O time tem um longo período pela frente pra equilibrar as contas e pode inclusive diluir os 222 milhões de euros que pagou por Neymar ao longo dos cinco anos de contrato. É só ir lançando uma fatia do contrato nos balanços anuais daqui até 2022.
Além disso, a equipe espera agora elevar seus acordos de publicidade, ir mais longe na Liga dos Campeões da Europa e até vender mais camisas, algo que é uma lenda urbana no futebol atual, mas que dá alguma força na hora de equilibrar as contas.
Enfim, uma transação dessas não se faz sem analisar os riscos jurídicos. E o Catar, que já anda enrolado com seus vizinhos e com as investigações sobre a Copa de 2022, procurou algo para mudar o foco. Claramente sabia o que estava fazendo.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.