Crises humanitárias afastam crianças refugiadas das escolas
Mais de quatro milhões de meninas e meninos refugiados estão fora da escola. Só em 2017, um milhão de novas crianças tiveram que pedir refúgio e apenas metade teve acesso à educação.
Os dados são de um novo relatório divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, o ACNUR. A entidade comparou a frequência escolar de crianças do mundo inteiro com a de crianças em situação de refúgio.
Enquanto 92% de meninos e meninas estão matriculadas no ensino fundamental, apenas 61% de crianças refugiadas conseguem ir à escola. Quase dois terços dos jovens que frequentam o ensino básico não chegam ao ensino médio.
E a situação piora quando se fala em faculdade: apenas 1% consegue ingressar no ensino superior.
A chefe do escritório do ACNUR em São Paulo, Maria Beatriz Nogueira, reforçou a importância da escola nessa fase, por ser o primeiro lugar onde crianças refugiadas encontram normalidade: “a escola se torna uma variável de integração, de normalidade, de aprendizado, de convivência com a sociedade e de acolhida”.
Os países que mais acolhem refugiados são Turquia, Paquistão, Uganda, Líbano e Irã. Mas o Brasil também vive uma situação de alto fluxo migratório.
De acordo com o IBGE, mais de 30 mil venezuelanos vivem hoje no país. Cerca de dez mil desses imigrantes cruzaram a fronteira em Roraima só nos primeiros seis meses de 2018. Aqui em São Paulo, a organização “I know my rights” ofereceu, só neste ano, assistência pedagógica para 124 crianças.
A Viviane Reis, diretora-geral da IKMR, contou que escolas e instituições de Roraima, centro da crise dos refugiados da Venezuela, já pediram ajuda para saber lidar com a situação das crianças por lá: “a gente vai fazer missão até Roraima para entender de que forma a gente consegue fazer um aporte com as professoras que estão lá”.
A ONG é parceira do ACNUR e trabalha diretamente com crianças solicitantes de refúgio de mais de dezessete nacionalidades e atua em escolas públicas e privadas.
André Leitão, da Associação Compassiva, também é parceiro da entidade e ajuda no processo de revalidação de diplomas. Ele explicou que o processo é longo, mas que tem dado resultados: “a questão da validação do diploma não é apenas documento que vai ter com ele, mas resgate dessa história e da dignidade como pessoa”.
Nos últimos dois anos, 29 diplomas foram revalidados, nove suspensos, dois arquivados e 49 processos ainda estão em análise.
O relatório da ONU recomenda que mais ações sejam feitas para garantir que todos os refugiados recebam educação de qualidade. O documento também pede parcerias com o setor privado e apoio financeiro da comunidade internacional para os países que abrigam a maior quantidade de refugiados.
*Informações da repórter Marcella Lourenzetto
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