Deltan Dallagnol: Cenário não é bom, a Lava Jato foi apenas o primeiro passo
Quanto as críticas feitas às instituições, o procurador disse que elas são voltadas ao aperfeiçoamento
O procurador da República, Deltan Dallagnol, também chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, avaliou que a Operação gerou um movimento de indignação contra a corrupção e, agora, em reação, tem um “grande barco em movimento” com pessoas de diferentes visões — como garantistas, potenciais investigados e que entendem que a Lava Jato deve acabar. “Esse ambiente de desmanche institucional das forças-tarefas não deveria se misturar com o combate à corrupção”, disse.
Dallagnol destacou que um dos principais pontos que impactam a confiança da sociedade no sistema, na democracia, é a corrupção e a falta de combate à ela. “Ainda temos um presidente da República que pode ter tentado interferir em operações da Polícia Federal, que não apoiou de forma consistente o combate à corrupção, que está negociando com o centrão. O cenário não é bom, precisamos caminhar para mudanças. A Lava Jato foi o primeiro passo, mas temos a caminhada de uma nova geração.”
Em entrevista ao Jornal da Manhã, ele justificou o fato da Operação “estar fora dos holofotes” porque ela não investiga pessoas que estão à frente da política nesse momento. “São dois motivos. As pessoas investigadas estavam até 2018 e ganharam em esquemas que se estenderam até 2014, 2015. Por isso perdeu a relevância no noticiário. Mas só nesse ano já foram nove investigações. A suspensão só aconteceu por causa da pandemia, vai ser retomada. E também porque tem o efeito comparativo. Depois de um tempo nos acostumamos com números altos e outros parecem menos relevante. Mas não podemos nos acostumar com injustiças.”
Quanto as críticas às instituições, Dallagnol disse que elas são voltadas ao aperfeiçoamento — não extinção ou fechamento. Ele reforçou que, nesse momento, o país precisa reforçar a sua democracia, e ela depende das instituições. “O Congresso não proporcionou clima, aprovou fundão eleitoral que dificulta a renovação. No STF não vimos ação institucional a altura. Além disso, vemos uma série de decisões sistêmicas como a questão da prisão em segunda instância. Essas são uma série de decisões que impactam a situação de modo negativo.”
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