De volta à Argentina para julgamento, torturador vivia em Paris como professor da Sorbonne
Um dos maiores torturadores da ditadura argentina está de volta ao país após décadas vivendo secretamente no exterior.
O ex-policial Mario Sandoval, conhecido como o “carniceiro”, vai responder por crimes cometidos no centro de detenção clandestino da Escola de Mecânica da Armada, principal local de tortura do regime.
Ao deixar a Argentina, em 1983, Sandoval se refugiou na França, onde chegou a ser conselheiro do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e se tornou professor do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Sorbonne, em Paris.
Mario Sandoval é suspeito de participar de centenas de assassinatos, torturas e sequestros, mas será inicialmente julgado pelo desaparecimento do estudante de arquitetura Hernán Abriata, em outubro de 1976.
Há evidências que o estudante, depois de torturado, foi jogado no rio da Prata em um dos chamados “voos da morte”. As estimativas apontam que a ditadura argentina tenha desaparecido com mais de vinte mil pessoas.
A denúncia contra Mario Sandoval se baseia no testemunho de outros presos da ESMA que o viram atuar, inclusive, na tortura de Hernán Abriata. A luta pela extradição durou oito anos e foi dificultada pelo fato de Sandoval ser cidadão francês.
A justiça francesa, no entanto, aceitou extraditá-lo para ser julgado na Argentina por entender que os crimes foram cometidos antes de ele obter a cidadania. Após o esgotamento de todos os recursos no Conselho de Estado, a mais alta instância administrativa da França, Mario Sandoval foi extraditado no domingo (15).
Na Argentina, mais de três mil pessoas são acusadas em processos por crimes de lesa-humanidade desde a anulação das leis de anistia em 2003. Cerca de 600 casos ainda estão em tramitação.
*Com informações da repórter Letícia Santini
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