Denúncias de abuso em canais do metrô recuam em São Paulo

  • Por Jovem Pan
  • 20/01/2020 06h57
Governo de SP metro Metrô: Após um pico em 2017, com 310 denúncias no ano, foram registradas 227 queixas em 2018, e 208 reclamações em 2019

A bancária Nathalia Araujo Reis, de 22 anos, pegava o metrô diariamente para estudar na zona leste e trabalhar na zona sul de São Paulo.

Em julho de 2017, ela estava dentro de um vagão lotado da Linha 3-Vermelha, por volta das sete horas da noite, quando sentiu as costas molhadas.

“Quando chegou na estação Tatuapé, ele desceu, junto com várias outras pessoas que desceram naquela estação, e eu vi que minhas costas estavam molhadas. Quando eu coloquei a mão, vi que ele tinha ejaculado em mim. Eu não tive reação nenhuma, não consegui sair do lugar. Fiquei parada e não consegui ter nenhuma reação, estava muito envergonhada.”

No dia seguinte, Nathalia foi a uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência. Até hoje, o homem não foi localizado.

Denúncias de histórias de assédio no Metrô, como a de Nathalia, não são casos isoladas, mas vem diminuindo. A cada semana, ao menos quatro mulheres denunciaram terem sofrido abuso sexual em estações e trens.

É o que apontam os dados obtidos com exclusividade pela Jovem Pan por meio da Lei de Acesso à Informação. Os relatos foram feitos aos canais de denúncia do próprio Metrô.

O levantamento mostra, no entanto, que o número de denúncias caiu nos últimos três anos. Após um pico em 2017, com 310 denúncias no ano, foram registradas 227 queixas em 2018, e 208 reclamações em 2019.

Procurado, o Metrô de São Paulo, confirmou a queda de 33% no número de queixas de abuso sexual entre 2016 e 2019. O órgão também pontuou que promove campanhas para estimular que as vítimas denunciem casos de assédio. 

Atualmente, existem 133 Delegacias de Defesa da Mulher no Estado de São Paulo, sendo que dez delas funciona 24 horas por dia. 

Vale ressaltar que o termo abuso sexual é utilizado para definir atos de violação sexual em que não consentimento da outra parte. Fazem parte desse tipo de violência qualquer prática de teor sexual forçado, como tentativa de estupro, carícias indesejadas e sexo oral forçado. Caso o assédio seja enquadrado como tentativa de estupro, a pena é de 6 a 10 anos de reclusão.

Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é preciso que o Estado prepare e mobilize os policiais para lidar com situações de assédio.

“Não basta apenas a importunação sexual ser crime, a gente precisa fazer com que isso seja punido. E é aí que precisamos não só da sensibilização policial, para que a mulher seja atendida de forma adequada, e fique encorajada a denunciar, mas também para que ela veja um desfecho no caso.”

Passado dois anos do episódio, Nathalia usa o Metrô normalmente e aconselha outras mulheres que possam vir a ser vítimas.

“Peça ajuda, chame alguém, avise alguém. Faça um escândalo se for preciso. Não é justo você passar por uma situação dessa e ficar calada. Não é certo uma pessoa fazer isso com você. É muito constrangedor. Mas se você pedir ajuda, se você gritar, vai ser muito mais constrangedor para essa pessoa, e eu difícil ela querer fazer isso de novo com alguém.”

A passageira que se sentir assediada deve acionar um funcionário do metrô e apontar o autor, para que todos sejam direcionados a uma delegacia. No Metrô, é possível fazer uma denúncias por SMS pelo número (11) 973332252. Além disso, o passageiro pode enviar informações, fotos e vídeos pelo aplicativo Metrô Conecta

 O Metrô de São Paulo transporta, por dia, mais de quatro milhões de pessoas

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