Dez anos após terremoto que devastou o país, Haiti está ainda pior

  • Por Jovem Pan
  • 11/01/2020 10h06
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Agência Brasil Agência Brasil Para agravar a situação, em 2016, o furacão Matthew atingiu o país, matou mil pessoas e afetou mais de dois milhões

Eram 4h53min da tarde de uma terça-feira quando o terremoto de sete graus na escala Richter atingiu o Haiti no dia 12 de janeiro de 2010. Mais de 230 mil pessoas morreram e outras 300 mil ficaram feridas por causa do abalo sísmico. Além disso, 1,5 milhão de haitianos perderam suas casas.

Dez anos depois, o país está pior do que no período após o desastre, de acordo com a professora de Relações Internacionais Daniela Alves, do Ibmec de São Paulo. “A reconstrução do Haiti era para ser um modelo de sucesso e de ajuda internacional, mas se tornou o grande fracasso, evidenciando que o envio da ajuda humanitária é uma condição necessária, mas não é suficiente para reconstruir um país falido”, explicou.

Em um relatório divulgado recentemente, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras afirma que o sistema de saúde do Haiti está novamente à beira do abismo.

Em 2010, foram destruídas 60% das instalações médicas, que chegaram a ser reconstruídas. Atualmente, no entanto, faltam medicamentos, oxigênio, sangue, combustível e até mesmo médicos. Muitos profissionais deixaram o país e os haitianos lutam para ter acesso aos cuidados básicos de saúde.

Depois do terremoto, o governo haitiano queria transformar o povoado de Lumane Casimir em um modelo de urbanismo. O projeto previa três mil casas construídas à prova de abalos sísmicos, um mercado, uma delegacia, um quartel dos bombeiros, uma escola e um posto de saúde. Essa construção, no entanto, nunca aconteceu.

Moradora do local, a haitiana Herlande Mitile, de 36 anos, ficou paraplégica depois do abalo sísmico e conta que precisa da ajuda dos vizinhos para sobreviver. “Eu gostaria de fazer a terapia porque o médico me disse que, se eu fizesse, eu poderia voltar a trabalhar. Mas para ir para lá, eu preciso de dinheiro e é por isso que estou paralítica, porque não tenho dinheiro para ir até o centro de terapia.”

Financiado pela Venezuela

Assim como outras diversas obras públicas inacabadas, o projeto do povoado Lumane Casimir foi financiado pelo fundo Petrocaribe.

Criado pelo venezuelano Hugo Chávez, em 2005, o projeto buscava oferecer petróleo a preço subsidiado ao Caribe e a países da América Latina. Em 2018, diversas manifestações exigiam transparência no uso dos recursos do Petrocaribe, que sofreu suspeitas de corrupção.

Essas investigações, assim como um massacre no bairro La Saline, no qual dezenas de pessoas morreram em 2018, levou ao desgaste da imagem do presidente Jovenel Moise. Diversas manifestações pediram a renúncia dele em 2019.

Para agravar a situação, em 2016, o Haiti enfrentou uma nova tragédia natural. O furacão Matthew atingiu o país e matou mil pessoas e afetou mais de dois milhões. Segundo o escritório de assuntos humanitários da ONU, cerca de três milhões e setecentas mil pessoas não tinham o suficiente para comer no ano passado.

* Com informações da repórter Nicole Fusco

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