Donos de postos rejeitam cartel de preços e adulteração de combustíveis

  • Por Jovem Pan
  • 15/01/2020 10h18 - Atualizado em 15/01/2020 10h27
Marcelo Camargo/Agência Brasil Homem de camisa vermelha abastece carro "Generalizam minha categoria como um todo, isso não pode ser considerado uma verdade", diz o presidente da Sincopetro

Os donos de postos de combustíveis e representantes da categoria estão rebatendo as críticas sobre cartel de preços e adulteração de gasolina. A Jovem Pan recebeu manifestações da diretora do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no ABC (Regran) e Presidente do Conselho de Ética da AbriLivre, Sirlene Gonçalves, de que “a categoria passa por grandes dificuldades. Estamos sempre atentos às irregularidades do setor, só não podemos generalizar”, ponderou. 

Esta também é a avaliação de José Alberto Paiva Gouvea, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro). 

“Generalizam minha categoria como um todo, isso não pode ser considerado uma verdade. Nós temos muitos problemas, como em qualquer outro segmento, mas a grande maioria dos donos de postos trabalham seguindo a legislação e atendendo às leis brasileiras.”

Sobre a redução de preços não chegar ao consumidor final, Gouveia explica. “Quanto a parte de aumento, nós temos sim um gap que precisa ser levado em conta – entre a Petrobras abaixar o preço e chegar até o posto, temos uma distribuidora de Petróleo, que vai definir qual é o valor a ser praticado. Chegando no posto, cada empresário faz sua análise e toma sua decisão. Quem tem mais estoque, pode segurar mais tempo. Quem tiver com estoque baixo, talvez tenha que repassar mais rápido. Isso é uma decisão de cada dono.”

O diretor executivo da Associação Brasileira de Combustíveis Livres (AbriLivre) Rodrigo Zingales, coloca que a maioria honesta é prejudicada pelo monopólio no refino e oligopólio na distribuição.

“Dados mostram que sempre que há uma queda de preço, as distribuidoras não repassam integralmente para os postos. Levando inclusive, muitas vezes, a abocanhar mais de 50% das quedas para aumentar os lucros. Três principais distribuidoras do país – BR, Shell e Ipiranga – representam atualmente cerca de 70% do volume total de combustíveis comercializados no Brasil, e têm sobre suas respectivas bandeiras, aproximadamente, 50% dos postos instalados.”

Zingales descarta que os postos sem bandeira concentram a adulteração de combustíveis “De fato, pelos dados divulgados pela ANP, percebe-se que apenas 3% de todos os postos sem bandeira foram autuados com algum problema de qualidade no combustível. Entre os postos bandeirados, esse percentual é de 2%. Além de serem muito baixos, esses números são muito próximos, o que desqualifica essa generalização”.

Sobre a política de preços praticada pelos postos de gasolina, ele explica. “Houve um acordo entre postos do interior de São Paulo para a uniformização de preços. A AbriLivre e seus associados não compactuam com esse tipo de prática, e as desconhece. Os combustíveis são commodities, e seus preços estão ostensivamente apresentados nas testeiras de custo. Logo, é natural que quando o líder do mercado aumente o preço, outros concorrentes possam, eventualmente, seguir esse aumento. Isso não quer dizer que há um cartel ou acordo entre eles.”

Outros donos de postos garantem que atuam há mais de vinte anos no segmento, sem combinar preços, com produtos legais e bombas aferidas pelos órgãos de controle. Apesar disso, como em todos os setores, há quem atue irregularmente. 

No setor, há grande regulação, com regras duras, alta carga de impostos e margens consideradas pequenas – de 20 a 30 centavos – para investimentos que alcançam a casa dos R$ 3 mi e geram R$ 20 mil mensais. De acordo com os empresários, apenas uma fiscalização mais efetiva poderá diferenciar os postos que atuam de forma regular, numa ação de proteção ao setor e, consequentemente, ao consumidor.

* Com informações do repórter Marcelo Mattos.

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