Doria ocupa espaço de Bolsonaro na imprensa internacional

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan
  • 03/06/2020 08h19 - Atualizado em 03/06/2020 08h55
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Roberto Casimiro/Estadão Conteúdo Doria tem concedido repetidas entrevistas exclusivas para veículos como BBC, CNN, Channel 4 e El País, algo incomum para o cargo que ele ocupa

“O que está acontecendo com o Brasil?” é uma pergunta que tenho ouvido diariamente de colegas e amigos estrangeiros. As estatísticas macabras da covid-19 não condizem com a postura do governo federal, que é fortemente rechaçado na imprensa internacional.

Há algumas semanas a gente vem discutindo aqui que o Brasil está se tornando um estado pária por conta da resposta dada à pandemia, mas talvez uma avaliação mais precisa seja que o presidente Jair Bolsonaro é quem está se tornado um líder pária — não o Estado brasileiro.

E é dentro deste contexto que o governador de São Paulo, João Doria, tem aproveitado o espaço deixado pela falta de um estadista em Brasília para se projetar também no exterior como um antagonista do presidente.

Doria tem concedido repetidas entrevistas exclusivas para veículos como BBC, CNN, Channel 4 e El País, algo incomum para o cargo que ele ocupa. Sempre falando em inglês, o governador martela na questão do que ele chama de “Bolsonarovírus”.

Além disso ele relata as dificuldades de implementar uma quarentena eficaz quando o líder da nação prega o oposto, ele ainda aponta que, na prática, a pandemia instalou uma agenda para o governo federal e outra totalmente distinta para governos estaduais.

Em uma entrevista para o Channel 4 da Inglaterra na segunda-feira (1º), Doria lamentava a postura do presidente. Na sequência a reportagem era ilustrada com a imagem pitoresca, pra dizer o mínimo, do presidente cavalgando em Brasília no meio de manifestantes, sem máscara e ainda distribuindo beijos e abraços.

Exceção feita à Casa Branca, são poucos os líderes internacionais que levam Bolsonaro a sério neste momento e Doria tenta se apresentar como fiador de alguma racionalidade no país.

O El País questiona o governador em uma entrevista publicada nesta quarta (3) sobre o risco crescente de ruptura institucional. Ele responde afirmando que São Paulo não vai admitir nenhum movimento de golpe para instalar outra ditadura no Brasil.

Nas palavras do governador, o Estado de São Paulo será um bastião de resistência para a preservação da democracia no Brasil e ele espera que outros estados tenham o mesmo comportamento.

Só que ao mesmo tempo, os relatos internacionais lembram que os paulistas têm os números absolutos mais elevados de vítimas da covid-19 no Brasil e que, mesmo assim, o Palácio dos Bandeirantes está flexibilizando a quarentena em um momento que não parece adequado.

Outra lembrança constante é que João Doria foi um aliado e apoiador de Bolsonaro nas eleições de 2018. Logo, o sucesso das investidas internacionais do governador também está diretamente condicionado ao desempenho dos paulistas dentro desta crise.

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