Duas faces da Covid-19: Como é a rotina de um pastor e coveiro durante a pandemia

  • Por Jovem Pan
  • 29/06/2020 07h26 - Atualizado em 29/06/2020 08h32
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MARCELO FONSECA/ESTADÃO CONTEÚDO Cemitério O pastor e coveiro relata a dor dos familiares que perderam entes queridos para a Covid-19. Segundo ele, as famílias procuram um conforto e uma palavra amiga no momento de desespero

O amazonense Izaías Nascimento é um homem com vida dupla. A partir das sete da manhã, ele veste macacão, máscara e protetor facial para trabalhar como coveiro em um cemitério em Manaus, capital do Estado, e vê de perto a dor das famílias que perderam seus familiares para a Covid-19. “Eu cheguei a fazer sepultamentos de oito a nove pessoas durante o dia”, afirma.

À noite, Izaías sobe no púlpito da Igreja Pentecostal Alcançando Vidas e, como pastor evangélico há quatro anos, leva um pouco de conforto para o coração das pessoas. “Eu falei com Deus,  Deus me incomodou muito e disse: vai, obedece. Porque onde eu te colocar você vai cuidar dos meus filhos, que são precisando de um consolo, de uma palavra amiga.”

O avanço implacável do vírus fez com que a capital, Manaus, chegasse a beira de um colapso no sistema de saúde em maio. Com mais de 70 mil casos e quase três mil mortes, o estado do Amazonas foi uma das regiões mais afetadas pela pandemia no Brasil. Izaías relata a dor, o medo e o sofrimento dos parentes ao perder um ente querido para o vírus.

“Eu tenho que dar uma palavra de conforto para a família, naquele momento de desespero. Quando a gente vai tirar o pai, a mãe, os filhos, filhas ficam gritando: não leva a minha mãe, não leva meu pai. Nós somos agredidos, mas agente tem que ficar calado porque eu sei que dói.”

Pela primeira vez em quase três meses, Manaus não registrou nenhuma morte por Covid-19 nas últimas 24 horas. Com a reabertura gradual do comércio, o governo amazonense ainda não conta vitória contra o coronavírus, mas diz que está no caminho certo.

*Com informações do repórter Leonardo Martins 

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