Economistas temem aumento de impostos para governo cumprir meta de nova âncora fiscal
Jovem Pan News ouviu diversos especialistas, que apontaram avanços da proposta em relação ao teto de gastos, mas que ficam apreensivos em relação ao resultado final nas mãos de um governo que pode gastar mais
Após o governo federal apresentar, na última quinta-feira, 30, a proposta de nova âncora fiscal, que deverá substituir o teto de gastos, dúvidas sobre como o mecanismo poderá refletir na redução da inflação e na taxa básica de juros, a Selic, do Brasil, atualmente em 13,75%. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chegou a afirmar que, para cumprir a meta de inflação do país, a Selic teria que ser ainda mais alta, em 26,5%. Economistas ouvidos pela Jovem News comentaram a proposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e disseram temer um aumento de impostos no país, o que não resolveria o problema financeiro e poderia, inclusive, piorar a situação da inflação e dos juros. Raul Velloso, economista especialista em contas públicas, disse à Jovem Pan que a proposta de novo arcabouço fiscal da equipe econômica do governo Lula 3 corre o risco de funcionar como um paliativo para o problema financeiro do país diante da dívida pública. Ele disse que a regra é relativamente melhor que a do teto de gastos, em vigor até 2022, mas que não ataca o cerne da questão, os gastos da União com a previdência pública, problema que atinge também Estados e municípios no país, segundo o economista. Os gastos com a previdência dos servidores consome mais de 50% das receitas federais.
“É preciso fazer ajustes que são praticamente impossíveis de serem feitos a curto prazo e sem outras mudanças de fato profundas. Há uma frustração e o resultado não consegue aparecer. Em 2021, 51% do gasto da União era previdência. Se nós não fizermos um programa de arrumação na casa nessa área, o que não é simples e demora, nós não vamos conseguir obter o resultado que se quer”, disse Velloso. Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), faz a mesma linha de análise. Ele se demonstrou preocupado com a questão dos gastos previstos pelas novas regras fiscais. “Outra questão que precisa ser esclarecida é relação às exceções. O Brasil é chegou de excepcionalidades. A gente acabou de vir do exemplo da pandemia, que é muito extremo, mas a gente sabe que, nesse tipo de medida, há exceções e elas precisam estar muito claras para a sociedade para que a credibilidade das medidas anunciadas sejam absorvidas pela sociedade brasileira”, afirma Bentes.
Já Gilberto Braga, economista do Ibmec, vê como positiva a nova regra fiscal, apontando que ter uma referência econômica já serve de alívio para os agentes financeiros. Ele acredita que o governo federal precisará ter muita habilidade nas negociações com o Congresso Nacional para aprovar o novo arcabouço fiscal e também na comunicação da nova regra. “Como a gente sabe, ela precisa ter uma tramitação política e, ao mesmo tempo, desarmar o mercado financeiro para que as taxas de juro possam ser reduzidas em um futuro próximo pelo Copom, para que ajude no combate à inflação. Esse ‘primeiro round’ é positivo. O governo leva uma pequena vantagem porque tem uma proposta bem construída, mas ela não é de simples aplicação e entendimento”, pontuou. Luciano Feres, CEO da Somus Capital, vê pontos positivos e negativos na proposta de âncora fiscal: “Resta saber agora o temor do mercado, que é como isso vai ser honrado. Quem vai pagar a conta? Que parte da população deverá pagar a conta? Uma outra análise que tenho visto é que as conversas estão demorando para sair, então acredito que o governo ainda não definiu, que deve ter um embate entre ministérios, presidente [Lula] e o ministro [Haddad]. Acredito que ainda há muita coisa para fazer”.
Para Bruno Monsanto, sócio da RJ+ Invesntimentos, a proposta não será suficiente para desancorar as expectativas de alta inflação e, consequentemente, não ajudará na redução da taxa básica de juros, a Selic: “O principal ponto negativo, e eu acho que isso vai ser o ponto mais criticado dessa proposta, é a desindexação das despesas à inflação e a indexação à arrecadação, porque a gente sabe que este governo tende a gastar mais, e o aumento da arrecadação pode vir de diversas formas, a mais óbvia é aumento de impostos, o que acaba gerando mais inflação e não resolvendo o problema da desancoragem das expectativas inflacionárias, que é o ponto mais determinante, como o [Roberto] Campos Neto tem batido muito nessa tecla, para poder ser iniciado o ciclo de corte de juros”.
*Com informações do repórter Rodrigo Viga
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.