Entenda a posição ambígua de Merkel na aprovação do casamento gay na Alemanha

  • Por Ulisses Neto - Jovem Pan Londres
  • 30/06/2017 10h50 - Atualizado em 30/06/2017 10h53
EFE/Oliver Lang Premiê alemã Angela Merkel durante discussões sobre o casamento gay no parlamento

A Alemanha aprovou nesta sexta-feira (30) o casamento entre pessoas do mesmo sexo, se unindo à maioria dos países da Europa Ocidental.

A partir de agora, gays e lésbicas terão exatamente os mesmos direitos de casais heterossexuais, incluindo a adoção de crianças.

A decisão foi aprovada pelos parlamentares alemães com ampla maioria e é nesse aspecto que a história fica politicamente interessante.

A chanceler, Angela Merkel, líder conservadora da União Democrata-Cristã, votou contra o casamento gay e durante anos se recusou a levar o assunto para votação no Bundestag, o parlamento alemão. Para ela, e também para a CDU, a união civil permitida em lei já era o bastante.

Acontece que políticos que entram para a história positivamente não costumam ficar amarrados ao anacronismo. E, por coincidência, também sabem fazer cálculos eleitorais com precisão.

A imensa maioria dos alemães é favorável ao casamento gay. Uma pesquisa recente mostrou apoio de 83% da população. Isso por si só já deveria ser o suficiente para fazer a chanceler mudar de ideia.

Mas além disso é preciso lembrar que Merkel governa com uma grande coalizão. E os partidos de esquerda, incluindo os sociais-democratas do SPD, já tinham avisado que sairiam do governo se a proposta não fosse aprovada.

A Alemanha terá eleições em setembro e provavelmente Merkel não deixaria de ser eleita por causa disso. Mas o assunto iria causar constrangimentos e enfraquecer a posição dela.

Por isso, a chanceler mudou de postura. Na segunda-feira ela chocou a Alemanha ao avisar que havia passado por uma experiência transformadora de opinião ao jantar com um casal de lésbicas que cuida de oito crianças em um abrigo domiciliar, que aqui eles chamam de foster home.

Foi a senha para programar a votação e liberar os parlamentares para votar de acordo com as suas consciências. Merkel votou contra, mas ao menos trabalhou para permitir que a vontade da maioria da sociedade fosse aprovada. Ainda que com interesses eleitorais muito claros.

Aqui na Europa o casamento gay já é autorizado na Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Holanda, Bélgica, Espanha, Portugal, Luxemburgo, França, Irlanda e Reino Unido, com excessão a Irlanda do Norte.

Áustria e Itália ainda restringem os direitos dos homossexuais à união estável.

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