Ernesto Araújo diz que viagem de Bolsonaro é ‘descaso com a Ucrânia’: ‘País amigo ameaçado’

Ex-ministro das Relações Exteriores afirma que viagem da comitiva brasileira deveria ser adiada, já que o encontro com Vladimir Putin sinaliza ‘apoio ao projeto russo’

  • Por Jovem Pan
  • 15/02/2022 10h12 - Atualizado em 15/02/2022 10h13
State Department photo/ Public Domain Ernesto Araújo Ernesto Araújo menciona que as tensões, independente da retirada das tropas, devem continuar elevadas

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo considera que a viagem do presidente Jair Bolsonaro e da comitiva brasileira à Rússia não deveria acontecer. Embora esteja planejada desde o fim do ano passado, a avaliação é que a visita deveria ser adiada, levando em conta a escalada das tensões entre o governo de Vladimir Putin e a Ucrânia. “Não era momento para fazer essa visita, porque sinaliza descaso em relação à Ucrânia, que é um país amigo que está sendo ameaçado”, alertou o ex-ministro durante entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News. Para ele, a visita também indica um apoio ao bloco russo-chinês, que apoia projetos diferentes das “prioridades do Brasil”. “A Rússia apoia os narcoregimes na América do Sul que querem algo diferente do que quer o governo do presidente Bolsonaro. Então estamos sinalizando, no fundo, um apoio ao projeto russo, que a gente não sabe exatamente qual é”, reforçou. 

Nesta terça-feira, 15, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou a retirada parcial de tropas da fronteira com a Ucrânia, após a conclusão de treinamentos na região. A sinalização, vista como um recuo positivo, também demonstra vitória do país sobre os ucranianos e toda a Europa, pontua Ernesto Araújo. “A Rússia, sem disparar um tiro, já ganhou uma guerra ao evitar que a Ucrânia entre na Otan. Se realmente se concretizar o recuo das tropas, a Rússia já ganhou porque criou pressão tamanha que mostrou que ‘olha, nós não podemos nos vincular ao ocidente, temos que nos vincular à Rússia’. O resultado dessa crise já é excelente para a Rússia”, opinou. 

Mesmo avaliando o cenário vitorioso a Putin, Ernesto Araújo menciona que as tensões, independente da retirada das tropas, devem continuar elevadas na região e, por isso, uma visita brasileira deveria ser evitada. “Essa pressão pelo desmembramento vai continuar. O presidente ir lá, nesse momento que existe essa pressão imensa que vai continuar existindo com ou sem tropas russas, é muito problemático”, disse o ex-ministro, que também questiona as motivações da visita. Segundo ele, as negociações para compra de fertilizantes não justificam o encontro entre Putin e Bolsonaro. “Visita presidencial sinaliza algo maior. Qual seria o grande projeto dessa viagem à Rússia? Para obter fertilizantes, não precisa de uma viagem presidencial”, finalizou.

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