“Estamos lidando com seres humanos”, diz Cármen Lúcia sobre bate-boca no STF

  • Por Jovem Pan
  • 23/03/2018 08h52 - Atualizado em 23/03/2018 14h35
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Derek Flores/Jovem Pan Na visão da presidente do Supremo, discussões como a dos dois ministros realmente não são boas, mas são coisas que acontecem sem se possa prever.

Os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes protagonizaram nesta semana um bate-boca no plenário do Supremo Tribunal Federal. Talvez o mais duro entre os dois. Barroso chegou a dizer que o colega é uma mistura do mal com o atraso e desmoraliza a corte. Também sugeriu que Gilmar age por interesses estranhos à Justiça.

Em entrevista exclusiva ao jornalista Augusto Nunes da Rádio Jovem Pan, a Ministra Cármen Lúcia lamentou o ocorrido, mas disse entender que esse tipo de situação é natural. “Melhor e ideal seria que não acontecesse de jeito nenhum, mas nós estamos lidando com seres humanos”, afirmou. “Embora lamentáveis essas passagens. Tenho certeza que os dois lamentam. São momentos de tensão que por algum motivo se ultrapassa um certo limite de coerência e harmonia entre os ministros que divergem dos pontos de vista.”

Na visão da presidente do Supremo, discussões como a dos dois ministros realmente não são boas, mas são coisas que acontecem sem se possa prever. “Até porque o juiz tem que manter a sua tranqulidade em relação ao pensamento diferente”, disse. “Eu espero que cada vez mais isso seja rareado até o ponto de nunca acontecer, porque não é uma boa visão para o tribunal.

Veja o trecho da entrevista:

Bate-Boca

O bate-boca aconteceu na última quarta-feira, em sessão que deveria votar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre doações ocultas de campanha eleitoral.

No meio de seu voto, o ministro Gilmar Mendes – que já havia criticado o que considerou uma protelação da ministra Cármen Lúcia em relação à tramitação do pedido de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – recomeçou a repreender atitudes de ministros da Corte. Mencionou a votação em que a Primeira Turma do STF decidiu que não é crime a interrupção da gravidez até o terceiro mês de gestação, que teve a relatoria de Barroso.

“Ah, agora vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão do aborto”. De preferência na turma com três ministros, aí fazemos um dois a um”, disse Gilmar.

Barroso, então, interrompeu Gilmar e afirmou que o ministro é “uma pessoa horrível”. “Me deixe de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Isso não tem nada a ver o que está sendo julgado”, disse Barroso.

O ministro continuou: “A vida para vossa excelência é ofender as pessoas. Vossa excelência é uma desonra para todos nós. Vossa excelência desmoraliza o tribunal. Já ofendeu a presidente (Cármen Lúcia), ofendeu o ministro Fux, e agora me ofende.

O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia”, disse Barroso.

A presidente Cármen Lúcia anuncia a suspensão da sessão em meio ao bate-boca e o ministro Gilmar Mendes pede para continuar seu voto. A ministra Cármen repete que a sessão está suspensa e Gilmar ainda rebate, referindo-se a Barroso:

“O senhor deveria fechar seu escritório de advocacia!”

Diante da insistência dos ministros, a presidente Cármen Lúcia corta o som dos microfones e a sessão é, finalmente suspensa. Durante o intervalo, os ministros Edson Fachin, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello, Roberto Barroso, Alexandre Moraes e Marco Aurélio ficaram em conversa no plenário.

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