Estudo contesta uso de maconha no tratamento da dependência de cocaína
Um estudo brasileiro contestou o uso recreativo de maconha como estratégia no tratamento de dependentes de crack e cocaína em reabilitação. A pesquisa foi publicada na revista Drug and Alcohol Dependence, na edição de dezembro do ano passado.
Segundo o artigo, o consumo da erva piorou os sintomas de abstinência dos pacientes, em vez de amenizá-lo — como era esperado.
Um grupo de 123 usuários desses dois tipos de drogas foi acompanhado por seis meses depois de receber alta. Eles ficaram internados por um mês no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Para realizar o levantamento, os voluntários foram divididos em três grupos, sendo que o primeiro era composto por dependentes de cocaína que fizeram uso de maconha. O segundo era de dependentes de cocaína que não consumiram a erva, enquanto voluntários sem histórico de uso de drogas integravam a terceira equipe.
Os pesquisadores constataram que, no primeiro mês depois de receberem alta, 77% dos dependentes que usaram maconha ficaram longe da cocaína. Do grupo que não havia feito uso da erva, 70% não tiveram recaídas.
No entanto, ao fim dos seis meses, 35% daqueles que fumaram maconha mantiveram-se abstinentes — enquanto 44% daqueles que não a usaram permaneceram sem recaídas.
O psiquiatra e pesquisador da USP, Hercílio Pereira de Oliveira Junior, um dos autores do estudo, explica o porquê.
“Um pouco da lógica do estudo inserece no fato de que qualquer substancia psicoativa que gera dependência produz prejuízos em funções cognitivas — como atenção, memória, controle de impulsos. Quanto mais comprometidos, maior a dificuldade de recuperação do indivíduo dependente.”
A pesquisa foi realizada por pesquisadores do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas e do Laboratório de Neuroimagem dos Transtornos Neuropsiquiátricos da Faculdade de Medicina da USP.
A ideia de que a maconha poderia ajudar no tratamento de dependentes de cocaína surgiu na literatura científica na década 90. No entanto, segundo o pesquisador Hercílio Pereira de Oliveira Junior, esses estudos eram inconclusivos porque não foi analisada uma amostra significativa de pacientes.
Ainda de acordo com ele, a ideia desse levantamento publicado recentemente é preencher as lacunas que existiam.////
*Com informações da repórter Nicole Fusco
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.