Ex-diretor da ANP: política de preços da Petrobras peca na falta de transparência

  • Por Jovem Pan
  • 26/05/2018 12h54
REUTERS/Sergio Moraes Imagem da sede da Petrobras no Rio de Janeiro

Um dos pontos centrais nas discussões que circulam em meio à greve dos caminhoneiros, que chega neste sábado (26) a seu sexto dia, tem sido a política de preços da Petrobras. Adotada em 2016, ela propõe, basicamente, variar o valor dos combustíveis de acordo com o dólar e as flutuações do mercado internacional. Para Helder Queiroz, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), essa política pode ser correta, mas tem pontos que precisam ser revistos.

“Essa semana mostrou que a Petrobras não passou no teste de estresse de mercado. Como o preço do petróleo vem aumentando seguidamente e teve uma desvalorização cambial na semana passada, a Petrobras acabou multiplicando a frequência dos reajustes e gerou uma insatisfação muitos grande. Basicamente foi em função da falta de previsibilidade com a periodicidade desses reajustes. Em segundo lugar, por ter uma falta de transparência maior em relação aos critérios que formam os preços”, declarou em entrevista à Jovem Pan.

“Essa política é correta no sentido de buscar um alinhamento de preços domésticos ao preço internacional. Mas ela, pelo fato de a Petrobras ser a única refinadora, precisava fornecer mais transparência quanto à periodicidade e aos critérios de reajustes. Em outros países esses preços se ajustam mais rapidamente com relação às flutuações dos preços do mercado, mas neles existem mais de um refinador. Então a própria competição serve como elemento para amortecer os preços. Os competidores buscam retirar fatias de mercado dos outros competidores, e nem sempre todos repassam aos preços finais as variações ao mesmo tempo. O exercício da competição acaba favorecendo o consumidor”, explicou.

Por fim, o especialista mostrou preocupação com o que pode acontecer nos próximos dias. “Sabemos que o preço vai continuar volátil, pode estar mais alto ou mais baixo. A saída teria que ser construída com uma verdadeira política de preços do governo, o que não existe nesse momento”, finalizou.

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