Ex-embaixador: ‘Entrada na OCDE é importante, mas perder vantagens na OMC é preço muito alto a pagar’
Foi confirmado nesta terça-feira (19), pela própria Casa Branca, sede do governo dos Estados Unidos, que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro concordou em abandonar o status de tratamento especial na OMC (Organização Mundial do Comércio) como contrapartida pelo eventual apoio ao ingresso na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A decisão, entretanto, é vista com ressalvas por especialistas. Em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã, por exemplo, o ex-embaixador Roberto Abdenur disse que “não há dúvidas de que a entrada na OCDE é importante, mas abrir mão de tratamento privilegiado na OMC é um preço muito alto a pagar”.
“Eu diria que a viagem [de Bolsonaro aos Estados Unidos] trouxe vários resultados positivos, como o acordo da base de Alcântara, osa acordos sobre entendimentos de comércio, investimentos também foram muito bem. A entrada na OCDE é uma espécie de selo de qualidade. Em troca do apoio dos Estados Unidos para a entrada na organização, o Brasil aceitou perder vantagens que o país tinha na OMC”, explicou.
Com o eventual apoio dos EUA no pleito para ingresso na OCDE, o Brasil concorda em abandonar o status de país em desenvolvimento com tratamento privilegiado na OMC. “Com isso, o Brasil perde espaço de manobra para defender interesses no plano comercial. Ao desistir da condição de país em desenvolvimento, o Brasil perde condições para novas ações destinadas a defender nossos interesses”.
Vale ressaltar que a perda dessa condição não é uma exigência da OCDE, e sim dos EUA. Roberto Abdenur foi categórico no assunto: “espero que o presidente e seus assessores tenham avaliado bem as consequências da aceitação da perda dessa condição especial de país em desenvolvimento com tratamento favorecido”.
“Não há dúvidas de que há prejuízo. Acho que é significativo. Mas há que reconhecer que a entrada na OCDE é algo muito positivo, eleva prestígio do país, o reconhecimento do país, melhora conceito do Brasil no plano financeiro, eleva rating, estimula investimentos”, complementa.
O apoio dos EUA ainda, no entanto, não é claro. Em comunicado conjunto de ambos os presidentes, Jair Bolsonaro e Donald Trump, o norte-americano reconhece o fato de o Brasil iniciar o processo de adesão à OCDE. “É uma linguagem tortuosa, que parece deixar no ar um espaço para que haja atrasos, demoras no acesso do Brasil à OCDE. É uma linguagem que merece ser devidamente avaliada”, finalizou.
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