Exposição “Histórias da Sexualidade”: Masp veta entrada de menores de 18 anos
É a primeira vez que o Museu de Arte de São Paulo (Masp), desde que foi fundado, em 1947, veta uma exposição para menores de 18 anos. A partir desta sexta-feira, dia 20, quando for inaugurada a exposição Histórias da Sexualidade, só maiores poderão ver as 400 obras reunidas pelos quatro curadores que respondem pela mostra sob supervisão do diretor artístico do museu, Adriano Pedrosa. A decisão foi tomada com base na orientação do departamento jurídico da instituição – segundo Pedrosa, nem tanto para evitar o transtorno pelo qual passaram o Santander Cultural de Porto Alegre e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, mas “para seguir a legislação vigente”.
Os advogados do Masp, que fazem parte do Conselho do museu, foram favoráveis à classificação etária para a exposição, mas não fizeram circular o parecer – esse relatório permanece confidencial. Contudo, teve certamente nessa decisão o peso da polêmica que envolveu o MAM, alvo de protestos por causa da interação de uma criança com um performer nu, e o Santander de Porto Alegre, que suspendeu a exposição Queermuseu por causa de ameaças de grupos conservadores, inconformados com o conteúdo da mostra, rejeitada lá e no Rio.
Em tempo: uma obra que esteve na mostra Queermuseu, como Cenas de Interior II – uma “compilação de práticas sexuais existentes”, segundo a autora, Adriana Varejão – está na mostra do Masp. Trata-se de uma reinterpretação das chungas (tradicionais gravuras eróticas japonesas), também instaladas na exposição bem ao lado da pintura de Varejão e de quatro desenhos eróticos da surrealista parisiense Louise Bourgeois (1911-2010)
A rigor, a mostra do Masp é mais ousada que Queermuseu, pois contempla todas (ou quase todas) as formas alternativas de sexualidade, denunciando justamente como as tentativas de reprimir o erotismo (na arte e fora dela) descambaram para a violência. Há, por exemplo, uma série do premiado fotógrafo Juca Martins que acompanhou as históricas batidas policiais do delegado José Wilson Richetti quando o policial assumiu a delegacia seccional do centro e criou a Operação Cidade no governo Paulo Maluf, em 1980. Num só dia ele prendeu 152 pessoas, entre prostitutas, travestis e homossexuais.
Há na mostra histórias ocultas de personagens igualmente marginalizados por sua condição. É o caso da bailarina do impressionista francês Degas, que ocupa o centro de um dos nove núcleos temáticos da exposição, o do mercado do sexo. Uma das curadoras, Camila Bechelany, conta que a modelo da escultura de bronze, filha de uma pobre família belga, possivelmente era uma prostituta de 14 anos. Ladeada por outras colegas de profissão, ela tem a companhia, na mesma sala, de garotos de programa com o sexo exposto no largo do Arouche, antigo ponto de prostituição masculina no centro de São Paulo.
Há uma profusão de obras de artistas brasileiros e estrangeiros de todas as épocas, que expõem de forma explícita a genitália, de uma tela do francês Ingres a uma ingênua pintura do mato-grossense Adir Sodré, que retrata a transgênero Roberta Close como uma ‘maja desnuda’ contemporânea. Há também esculturas, como a do carioca Chico Tabibuia (1936-2007), que também explorou o transgênero sobrenatural ao esculpir um Exu com sexo duplo.
Os curadores selecionaram 40 obras do acervo do Masp entre as 400 emprestadas por outros museus, galerias e colecionadores particulares, entre elas obras de Picasso, Gauguin, Suzanne Valadon, Poussin e Victor Meirelles. Concebida em 2015, ou seja, dois anos antes das polêmicas que envolveram as exposições do Santander Cultural e Museu de Arte de São Paulo (MAM), a exposição, segundo o diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, integra uma série dedicada à sexualidade na arte, da qual fizeram parte as individuais de Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Miguel Rio Branco, Henri de Toulouse-Lautrec, Tracey Moffatt, Pedro Correia de Araújo e Guerrilla Girls. A próxima será dedicada ao escultor pernambucano Tunga (1952-2016).
Histórias da Sexualidade, apesar do título, não segue a filosofia do francês Michel Foucault (1926-1984), garante Pedrosa. Em todo caso, a mostra, como Foucault, relaciona religião e sexualidade (com destaque para a série bíblica de Leon Ferrari e o São Sebastião – de Perugino e Mapplethorpe). “É um grande mosaico de várias histórias que se entrelaçam e podem ser tanto reais como fictícias”, define o diretor artístico do Masp.
Confira as informações do repórter Fernando Martins:
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