Falta de medicamentos para doenças psiquiátricas na rede pública afeta pacientes
Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia coordena abaixo-assinado para pressionar governo
O filho da Valéria Medeiros foi diagnosticado com esquizofrenia aos 21 anos. Foi só após 11 anos de tratamento intenso, com medicamentos, terapias e uma equipe de profissionais é que a doença do Henrique estabilizou. No entanto, agora, ela se vê em uma situação difícil e de incertezas. Isso porque o remédio do filho, fornecido pelo SUS, não é disponibilizado desde o final de novembro. Com a renda menor em casa, ela teme não conseguir arcar com o remédio caso o governo não volte a fornecer. “A minha renda caiu bruscamente, eu não tenho de onde tirar. Se faltar, eu não vou poder continuar comprando, dentro desse valor. Ou eu vou tirar de outro lugar”, afirmou. De acordo com a Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia, há registro de falta de medicamentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Rio Grande do Sul, Piauí e também em Aracajú e Maceió. Os remédios custam caro, cerca de R$ 300 reais. Alguns podem chegar a custar R$ 1 mil e são fornecidos pelo SUS às famílias de baixa renda que não podem arcar com o pagamento.
A presidente da Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia, Sarah Nicoleli, afirma que tem tentado ligar no Ministério da Saúde e que não obtém resposta. Segundo ela, esta não é a primeira vez que farmácias de alto custo ficam sem a medicação. “Eu não obtive nenhum retorno. Tentei ligar para Brasília várias vezes, não consegui falar com ninguém. Quando não, uma pessoa passava para outra. Também fiz um registro pelo 136, que até então não tive retorno algum”, disse. Sarah diz que, na tentativa de conseguir a medicação para os filhos, muitas mães trocam medicações entre si. “As mães trocam medicamentos. Aquelas que têm de repente sobrando mandam para outra, a gente apresenta a receita atualizada e troca entre si para que uma possa ajudar a outra, mas você não tem medicamento para todo mundo”, disse. Sarah afirma que algumas mães do grupo tiveram a informação de que esses medicamentos chegariam no dia 15 de dezembro. No entanto, não há ainda uma posição oficial.
O médico psiquiatra Thiago Rodrigo diz que pacientes com esquizofrenia não podem ficar nenhum dia sem a medicação, que pode levar a surtos e até suicídio. “Eu sempre falo o seguinte: tem família que é composta por quatro pessoas e se uma pessoa adoece com esquizofrenia, acaba que o resto também adoece. Então tem a sobrecarga do cuidador. Ponderaria mais o Estado ter que cuidar além do paciente, dessa família que acaba adoecendo neste período”, analisou. Em nota, o Ministério da Saúde disse que “mantém todos os esforços para garantir o abastecimento de medicamentos ofertados pelo SUS e alega que o atendimento do quarto trimestre das demandas por medicamentos dos estados é feito de maneira parcelada, considerando a disponibilidade de estoque e de entrega pelas empresas contratadas”.
*Com informações da repórter Camila Yunes
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