Há 500 anos, o mundo mudava a partir de uma contestação do monge alemão Martinho Lutero

  • Por Jovem Pan
  • 31/10/2017 07h23 - Atualizado em 31/10/2017 12h09
Reprodução O presidente da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, pastor Egon Koepereck, disse que esse monge, Martinho Lutero, não tinha ideia do que ia causar

Quando o Papa Francisco canonizou, há três semanas, 30 brasileiros que resistiram às invasões holandesas no século 17, a Igreja Católica relembrou mártires de um confronto que hoje pertence ao passado.

Mas em 1645, além das disputas territoriais, a região que hoje é o Rio Grande do Norte foi palco de um confronto entre católicos e protestantes.

Este seria apenas um exemplo entre os diversos conflitos que colocariam frente a frente nos próximos séculos os cristãos que seguiam a orientação do Vaticano e aqueles que não seguiam.

Esses enfrentamentos começaram com um questionamento de um monge da Igreja Católica a preceitos da própria igreja há 500 anos, em 31 de outubro de 1517.

O presidente da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, pastor Egon Koepereck, disse que esse monge, Martinho Lutero, não tinha ideia do que ia causar: “nunca foi desejo de Martinho Lutero formar uma nova Igreja. O que ele queria é que sua Igreja reconhecesse que havia se afastado, em alguns aspectos, da palavra de Deus. Inclusive, quando mais tarde começaram alguns a serem denominados luteranos, ele dizia ‘por favor, não se chamem luteranos’”.

Mas foi isso que aconteceu. E a publicação das noventa e cinco teses de Lutero motivou uma nova interpretação da fé cristã que se espalhou.

O principal questionamento do monge alemão era sobre a prática católica da época da venda das indulgências, ou seja, trocar o perdão dos pecados por dinheiro.

O Vaticano respondeu com o Concílio de Trento, um encontro de bispos que foi realizado menos de 30 anos depois da publicação das teses.

Lá foi estabelecida a chamada contrarreforma, que gerou consequências que foram além do campo da fé, como relatou o professor da Faculdade de Teologia da PUC de São Paulo, Antônio Manzatto: “e isso se manifestou em diversos conflitos ao longo do século”.

Naquele momento, não eram apenas os fiéis que enxergavam uma oportunidade de mudança, mas também os políticos.

O professor de história da religião da Faculdade Teológica Sul-Americana, Wander de Lara Proença, explicou que nações europeias aproveitaram o momento e reformaram também o recolhimento de impostos: “a reforma trouxe uma oportunidade também para os reis, os governos, de buscarem libertação do controle da Igreja Católica”.

Para espalhar essas ideias, os seguidores de Lutero se utilizaram de uma invenção que ganhava popularidade no século 16: A prensa de Johannes Gutenberg.

O pastor luterano Egon Koepereck explicou que a propagação da bíblia é um ponto central da reforma, em contraposição a uma postura mais restritiva da Igreja Católica: “a invenção de Johannes Gutenberg foi fundamental, porque se pode duplicar a Bíblia em pouco tempo”.

Lutero então é chamado a justificar suas ações perante a igreja e termina excomungado.

O professor Wander de Lara Proença disse que, considerado um herege, o monge teve a cabeça colocada a prêmio: “a sua cabeça é posta a prêmio, há recompensa oferecida para quem o capturasse, teria perdão de pecados”.

Apenas mais de 300 anos depois da reforma, a Igreja Católica estabeleceria um diálogo oficial com as igrejas protestantes.

O professor Antônio Manzatto afirmou que esse entendimento só surgiu com o Concílio Vaticano Segundo, na década de 1960: “e esse diálogo tem se desenvolvido, seja de forma bilateral, em vista da construção de uma possibilidade de diálogo, de comunhão de testemunhas diante do mundo”.

Hoje, o mundo reúne cerca de 900 milhões de protestantes e evangélicos, mais de 40 milhões só no Brasil. Um número impressionante de crentes cuja fé se manifesta a partir de uma contestação que aconteceu há exatos 500 anos.

*Informações do repórter Tiago Muniz

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.