Impacto na economia é garantido e vai ser bastante significativo, diz ex-presidente do BC

  • Por Jovem Pan
  • 19/03/2020 10h09 - Atualizado em 19/03/2020 10h15
Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo mulher em prateleira Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil, deu entrevista ao Jornal da Manhã nesta quinta (19)

Mesmo com as medidas já adotadas pelo governo federal, incluindo o corte de meio ponto percentual na taxa básica de juros anunciado pelo Copom, a economia brasileira sofrerá impactos significativos durante a pandemia do coronavírus, analisou Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil.

Em entrevista ao Jornal da Manhã nesta quinta-feira (19), o economista afirmou que o Brasil demorou para tentar minimizar os danos econômicos, mas ainda será possível evitar consequências maiores.

“O impacto na economia já é praticamente garantido e vai ser bastante significativo. Mas ainda vejo algumas áreas que o governo pode atuar liberando excepcionalmente gastos que vão ter impactos muitos importantes”, disse.

Segundo Fraga, áreas como logística, saúde e social necessitam da atenção federal neste momento. No caso da medicina, o economista citou recursos essenciais para conter o avanço da covid-19 no país.

“Existe uma carência muito grande de leitos, principalmente de emergência, então é preciso uma corrida para melhorar essa área; os testes para detectar a doença andam mal aqui, talvez seja possível importar algo, o que teria grande impacto [para reduzir o número de casos].”

Fraga também citou que as medidas sociais anunciadas pelo governo não serão suficientes para ajudar a população mais pobre, que poderá ser a mais afetada pelo coronavírus.

“Acho que tem muito mais a fazer. O Brasil tem canais de distribuição de recursos importantes, como o Bolsa Família, o Cadastro Único, cabe alocar recursos e trabalhar para que eles cheguem à ponta. O governo já deu alguns passos nessa direção, mas é preciso fazer mais”, afirmou.

Para o economista, o setor de serviços será um dos mais afetados economicamente pela pandemia. “Além de cuidar dos mais necessitados, vai ser fundamental também proteger ao máximo os empregos e garantir minimamente que a economia continue funcional durante essa fase.”

Questionado sobre a possibilidade de utilização do Fundo Eleitoral para o combate ao coronavírus, Fraga acenou não somente para esse recurso, mas também muitos outros que poderiam ajudar a economia durante essa crise.

“80% dos gastos do país vão para funcionalismo e Previdência, então se quisermos olhar realmente aonde existe dinheiro, não só pra administrar a crise, mas pra melhorar nossa sociedade, é preciso começar aí: pensar numa reforma do Estado, reforçar a reforma da Previdência e o fundo partidário se insere nesse contexto. Se o Legislativo achar que tem recurso sobrando, não vai faltar uso nesse momento.”

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