Impulsionado por empreendedorismo, ‘black money’ cresce no Brasil
Além da recolocação, a inclusão no mercado de trabalho é a pauta mais urgente para pretos e pardos no Brasil. É o que indica a pesquisa “Consciência entre urgências: pautas e potências da população negra no Brasil”.
Essa comunidade representa 55,8% dos brasileiros – e, apenas neste ano, alcançou a maioria em cursos de ensino superior nas instituições públicas. Porém, quando os pretos e pardos conseguem concluir os estudos, a inclusão no mercado de trabalho torna-se a principal dificuldade.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, 64,2% dos desempregados são pretos e pardos.
Apesar das dificuldades, muitos afro-brasileiros passaram a se virar, explorando a própria cultura. Por meio do empreendedorismo, muita gente passou a abrir e-commerce, produzir conteúdo e oferecer serviços específicos para a comunidade negra.
É o caso de Tiago Francisco, de 32 anos, que é designer gráfico e abriu uma loja online chamada “Nóis é Preto”. Segundo ele, além de vender, o objetivo é promover cultura.
“A ideia é levar conhecimento, informação, empoderamento e disseminação da cultura afro. Nós fazemos esse tipo de trampo nas redes sociais. Fazemos nossas pesquisas, nossos posts, nossa comunicação direta. Lá nós fazemos os nossos posts relacionados a ícones negros e pessoas que fizeram parte do movimento negro de justiça e liberdade.”
A loja de Tiago Francisco recebe cerca de 500 pedidos por ano.
O gerente de marketing de conteúdo do Google, Rodrigo Maceira, destaca o descontentamento da população negra com marcas tradicionais.
“Nove entre 10 negros acham que a data do dia 20 de novembro é importante para relembrar heróis e heroínas do movimento negro. Apesar da data ser muito importante, a população negra acha que as marcas, em geral, são oportunistas e poderiam aproveitar o momento de uma outra maneira.”
Rodrigo Maceira ressalta que o racismo estrutural e institucional é a segunda pauta que merece mais atenção para pretos e pardos.
Para ultrapassar essas barreiras, a comunidade desenvolveu maneiras de estimular o consumo e a prestação de serviços para que o dinheiro circule entre negros, movimento conhecido como Black Money – dinheiro preto, em tradução livre.
O doutor em Desenvolvimento Econômico e professor da Faculdade Cásper Líbero, Jefferson Mariano, afirma que a iniciativa é fundamental para reduzir a desigualdade.
“No caso da população negra o crédito é praticamente vedado porque as garantias que são colocadas são muito elevadas – praticamente eliminando a população negra da possibilidade de acessar essas ferramentas. O Black Money tem essa possibilidade de trazer a população para não só acessar os mecanismos de crédito, mas de disponibilizar produtos e serviços aos quais a população negra possa acessar. Isso passa a ser um ponto importante.”
De acordo com a Síntese de indicadores sociais, realizada pelo IBGE neste mês, trabalhadores brancos ganham, por hora, 45% a mais do que pretos e pardos.
Mesmo sendo maioria, a população negra está concentrada em setores que tradicionalmente pagam menos, como: agropecuária, construção e serviços domésticos.
*Com informações do repórter Matheus Meirelles
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.