Irmão de Lula recebeu ‘uma vida em pagamento de propina’, diz procuradora

  • Por Jovem Pan
  • 10/09/2019 09h36 - Atualizado em 10/09/2019 11h20
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Reprodução Presidente Lula arrumando a gravata e com uma feição brava Coordenadora da Lava Jato explicou início da relação entre Lula, seu irmão e a empreiteira

A coordenadora da Força-Tarefa da Lava Jato em São Paulo e procuradora da República, Anamara Osório Silva, disse, nesta terça-feira (10), que o irmão do ex-presidente Lula, Frei Chico, recebeu “uma vida” em propinas mesmo depois de ter parado de prestar serviços à Odebrecht. Em entrevista ao Jornal da Manhã, ela explicou que, de acordo com a denúncia feita aos irmãos pelo Ministério Público Federal (MPF) ontem (9), a relação de ambos com a empreiteira é antiga.

“Lula, quando ainda era sindicalista, introduziu o irmão no relacionamento com o Emílio [Odebrecht], para que começasse um diálogo entre a empresa e o setor sindical. O Frei Chico foi contratado como consultor sindical, ele recebia os pagamentos por recibo, havia um serviço para isso” explicou, em relação ao início da relação do grupo, que começou na década de 1990, quando a construtora queria expandir e o Brasil vivia e Programa Nacional de Desestatização, com forte resistência aos sindicatos.

Segundo a procuradora, nessa época, Frei Chico foi contratado para construir um diálogo. O problema é que os pagamentos para ele continuaram até 2015, mesmo muito depois de seus serviços terem terminado. “O pagamento para o Chico começou em 1990 e se estendeu até 2015. Estamos falando de em três décadas de pagamento de propina, uma vida em pagamento de propina. Quando Lula assumiu a presidência, em 2002, a Odebrecht já tinha conquistado seu lugar, a resistência às desestatizações já tinham terminado, mas os pagamentos continuaram”, conta.

“A partir daí, o Marcelo Odebrecht continua essa relação através do pagamento dessas propinas, mas a forma de pagamento muda. Não existe mais nenhum serviço prestado por Frei Chico, então os repasses começam a ser feitos em dinheiro, em espécie, em especial em restaurantes e através do Sistema de Operações Estruturadas [conhecidamente usados para repasses e corrupção] da Odebrecht”, explica.

Silva ressalta que, a partir deste momento, o irmão de Lula ganhou até um codinome no sistema da empresa: Metralha.

De acordo com a coordenadora da Lava Jato, não existe, por parte da defesa, nenhuma comprovação de que continuou existindo qualquer tipo de prestação de serviços por parte de Frei Chico para a empresa. Dessa forma, nada justifica o pagamento, “por três décadas, de R$ 3 mil a partir de 2002, passando para R$ 5 mil até 2015.”

Silva enfatiza, ainda, que o valor pouco importa. “Não importa o montante que se tome, pouco interessa. O que interessa é que se alimentem do sistema, que o agente público ganhe do sistema para sua família, para seu irmão, para quem for, que sustente quem lhe interessar. O uso desse montante, ainda, por décadas, é muito sério. É muito sério termos um sistema contaminado dessa maneira”, finaliza.

 

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