Medidas de isolamento não são adotadas nas periferias de São Paulo
O vendedor Samuel Cordeiro coloca a máscara de proteção e começa a trabalhar às nove da manhã. Ele entrega folhetos de uma ótica em São Miguel Paulista, no extremo leste da cidade de São Paulo. O vendedor conta que, mesmo com a pandemia da Covid-19, o movimento no centro comercial do bairro continua o mesmo de sempre.
O serviço de Samuel é conhecido como “puxador de loja”, porque o trabalho é abordar as pessoas na rua para levá-las até o estabelecimento. Por conta do coronavírus, serviço como o dele não poderia estar sendo realizado, porque não se enquadra como essencial e porque as pessoas deveriam estar respeitando o isolamento social.
Mas, nos bairros afastados do centro, os trabalhadores informais precisam sair de casa; caso contrário, “não tem comida na mesa”, diz Samuel.
A Covid-19 chegou ao Brasil como “doença de rico” porque os primeiros infectados contraíram a doença no exterior, se trataram em hospitais de alto padrão e moravam em áreas nobres. Mas o cenário mudou e a doença vem se espalhando com rapidez nas periferias e preocupando ainda mais as autoridades de saúde.
Em comunidades da zona leste, sul e norte da cidade, onde a Jovem Pan esteve presente, a circulação de pessoas é intensa. No centro comercial de São Miguel Paulista, muitas lojas de serviços não essenciais seguem abertas, algumas à meia porta. O comércio ambulante continua a todo vapor nos pontos de ônibus e nas entradas das estações de trem.
Apenas uma coisa é diferente: as máscaras de proteção facial são a maior parte dos produtos à venda. Inclusive, andando pelas ruas de Itaquera, na zona leste, e no Capão Redondo, na zona sul, pode-se notar que as pessoas adotaram a máscara para se proteger; embora não seja difícil encontrar quem ignore a regra obrigatória também nas periferias.
Nas praças, ruas e vielas, os adolescentes passam a quarentena em clima de férias. Muitos jogam bola, soltam pipa e até se reúnem para conversar e fumar narguilé. A estudante Fernanda Sanches conta que esse cenário se repete na Brasilândia, zona norte de São Paulo, o bairro que lidera a lista de registros de mortes por Covid-19.
A cientista social Reia Silvia Gonçalves diz que a falta de um discurso unificado do Estado sobre a pandemia dificulta ainda mais o isolamento. Na opinião da pesquisadora, os governos estaduais devem apoiar as iniciativas individuais dos moradores nas comunidades.
Mesmo com os novos casos da Covid-19 em alta na cidade, o governo de São Paulo anunciou um plano de reabertura gradual do comércio, no qual a capital está inclusa. Até o momento, 92% dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) dos hospitais municipais estão ocupados.
*Com informações do repórter Leonardo Martins
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