Janaina afirma que não vai concorrer à prefeitura de SP: ‘Quero ter liberdade de fala’
A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) afirmou, nesta segunda-feira (5), que não vai ser uma das candidatas à prefeitura de São Paulo no ano que vem. Em entrevista ao Jornal da Manhã, ela afirmou que o que ela deseja, neste momento, é continuar tendo uma liberdade de fala que lhe permita criticar tanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL), do seu próprio partido, como outras instituições, como no caso do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Eu acho que nesse momento histórico, eu ter um local de fala, ter essa liberdade de fala é essencial, e a prefeitura me tolheria nesse aspecto, deixa pra quem quer”, declarou a deputada, logo depois de explicar que, para ela, o importante é que as autoridades entendam que “ninguém está acima da lei”.
STF e Dias Toffoli
Questionada sobre qual mensagem acredita passar com o pedido de impeachment do presidente do STF, Dias Toffoli, Janina afirma que é preciso lembrar que seu cargo não permita que ele “possa tudo”. “A primeira mensagem que eu entendo, e que é a principal, é a de que ninguém está acima da lei. Eu nunca tive nada contra o ministro, mas o proceder dele vem num crescente de ilegalidades, como se por ser presidente do Supremo ele pudesse tudo. E não é assim, numa República não é e não pode ser assim. Com esse pedido, que eu espero que seja atacado, a mensagem é de que ninguém está acima da lei e da Constituição”, disse.
Para ela, é importante lembrar que ela não está trabalhando contra figuras específicas, mas sim defendendo instituições. A deputada explica que, quando pediu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), não foi porque era contra alguma decisão que ela tomou, mas sim porque ela veio em um crescente de ilegalidades. “Não podemos confundir pessoas com instituições. O problema não é a decisão com a qual eu não concordo, são as atitudes ilegais que a pessoa vem tomando num nível cada vez maior. No caso do Toffoli, ninguém deu explicação de nenhuma das supostas ilicitudes cometidas”, explicou. “No caso da Dilma, o impeachment foi um caminho para preservar a instituição presidência da República, com Toffoli, é a favor do STF.”
Ainda sobre o processo de afastamento do presidente do STF, Janaina criticou o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP) que, segundo ela, deveria estar trabalhando nisso. “O papel do Senado, neste momento, é colocar limites no Supremo. Não na ideia de um julgador, eu jamais pediria um impeachment por uma decisão com a qual não concordo, faz parte da democracia, mas quando tem ilegalidades, alguém precisa barrar. E o Senado precisa fazer isso, mas Alcolumbre está fugindo de sua responsabilidade”, declarou.
A retórica de Bolsonaro
A deputada também comentou sobre as recentes falas mais polêmicas do presidente, e se posicionou de maneira crítica em relação à exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, na última sexta-feira (2). Para ela, Bolsonaro até pode divergir dos números de um instituto ou órgão, mas precisa de embasamento técnico para isso, além de menos agressividade.
“Nada impede que o presidente, tecnicamente, discorde de um órgão. Ele poderia divergir dos números, mas qual a melhor maneira para isso? Solicitar um estudo, , uma avaliação de algum outro especialista, se socorrer de alguma substância. Eu li, por exemplo, um texto de um professor da USP dando razão ao presidente. Se ele recorresse a uma discussão técnica, menos apaixonada e com menos agressividade, causaria menos problemas.
Segundo ela, outro problema é ele estar cercado de outras autoridades poucos críticas em relação a ele. “Ele está cercado de assessores que o aplaudem em tudo, então corre risco de ser afundado. O problema não é divergir, é a maneira de divergir”, avaliou.
Janaina também comentou que um possível afastamento do presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), caso realmente aconteça, é grave. “Se o presidente realmente pediu ou autorizou o afastamento do presidente do Coaf por ter feito críticas à decisão de Toffoli, isso é muito serio. O presidente tem que ter em mente que foi eleito por uma pauta direitista, de costumes, mas foi eleito, principalmente, pela garantia que pareceu nos dar de que seguiria no combate à corrupção. Se começar a dar recuos nessa pauta, vai ficar complicado,”
Eduardo na embaixada
Sobre o fato do filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ser indicado para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, a deputada voltou a dizer que acredita que o ato é ilegal e sem relevância para o governo. “Quando ele indica dizendo que está fazendo a indicação justamente porque Eduardo é filho, fica muito explícito que o fato de ser filho é que é o diferencial”, ressalta.
“É como se o presidente estivesse se dispondo a ficar devedor do Congresso por uma coisa menor. Os poderes estão sempre em negociação, e Bolsonaro vai ficar devedor por algo que, para o país, não consigo ver como importante. Posso estar equivocada, mas essa não é uma negociação para a Previdência. Ficar devedor para indicar o filho… Não consigo ver aspecto positivo nisso”, finalizou.
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