Jogo entre Marrocos e França tem tensões sociopolíticas históricas como pano de fundo
País africano foi colônia dos franceses até 1956, quando conquistou a independência, mas sem cortar laços culturais fortes
A Copa do Mundo do Catar tem sido para o Marrocos a síntese da própria história das relações marroquinas com o continente europeu. Primeira semifinalista africana na história dos mundiais, os Leões do Atlas buscam nesta quarta-feira, 14, em jogo contra a atual Campeã do Mundo, a França, dar mais um alto rugido no deserto pelo grito do povo marroquino e para calar mais um algoz dentro e fora de campo. O Marracos está localizado no norte da África e é separado da península ibérica pelo estreito de Gibraltar. Povos mouros do país e de todo o Império Islâmico ocuparam a península no século VIII até as cruzadas, que resultaram na criação de Espanha e de Portugal. Espanhóis e portugueses, posteriormente, tentariam invadir o Marracos, mas sem sucesso, sobretudo para Portugal no século XV. Ainda assim, no século XIV, o imperialismo europeu conseguiu dividir o Marracos em colônias francesas e espanhola. A independência veio apenas em 1956, mas mantendo lanços culturais bem apertados. Atualmente, o francês é uma das línguas oficiais do Marrocos, e a França é o país com mais marroquinos fora do continente africano: são mais de um milhão de marroquinos no país europeu. Outros 800 mil vivem na Espanha atualmente. Tais números contrastam com questões como a intolerância religiosa ao Islamismo, sobretudo na França, fazendo o confronto desta quarta ficar cercado de tensão.
A equipe comandada por Walid Regragui estreou no Mundial com zero a zero contra a Croácia e teve sua primeira grande vitória diante da Bélgica, contra quem fez dois a zero, com gols de Saïss e Aboukhlal, causando um furor marroquino nas ruas de Bruxelas, capital da Bélgica. O país tem quase 300 mil berberes vivendo em suas terras. Na sequência, após a classificação para as oitavas de final, o jogo contra a Espanha mobilizou torcidas rivais em Madrid e na Andaluzia para barrar as comemorações berberes. Não adiantou. A vaga do Marracos foi conquistada nos pênaltis, e a festa só aumentou. Para esta quarta, dentro de campo, ainda que considerados os “azarões” diante da atual campeã do mundo, os marroquinos estão confiantes, como afirmou o técnico Walid Regragui ao recordar que as pessoas tem apostado na eliminação do Marrocos desde o início do torneio e que a equipe foi ao Catar pelo sonho de ser campeão mundial. “Cada jogo vencido é um passo a menos para esse objetivo”, diz o treinador marroquino.
*Com informações do repórter Rodrigo Seraphim
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