Júri condena ambulante que matou mulher trans em São Paulo
Réu foi sentenciado a sete anos e seis meses de prisão pelo crime de homicídio; assistente de acusação diz que vai recorrer para imputar uma pena maior de pelo menos 22 anos de reclusão
A Justiça de São Paulo condenou o ambulante Jeferson Pereira, que esfaqueou e matou a jovem transexual Chiara Duarte, 27, em setembro de 2020. O julgamento durou mais de seis horas no fórum criminal, em Barra Funda. A maioria dos jurados votou pela condenação do acusado de assassinar Chiara em um prédio no bairro da Sé, em São Paulo. Segundo a polícia, após uma discussão, ele esfaqueou várias vezes a vítima e depois a jogou do sétimo andar na rua. O réu foi sentenciado a sete anos e seis meses de prisão pelo crime de homicídio. O assistente de acusação, Angelo Carbone, achou a pena branda e vai recorrer da decisão.
“A pena é muito branda, sete anos e meio. Eu vou recorrer. Tem erro no processo. Ele devia estar respondendo por homicídio duplamente qualificado, devia sair com uma pena de pelo menos 22 anos. Eu acho um absurdo o que aconteceu. Não podia ter ocorrido esse erro no processo. E a gente vai brigar no tribunal de justiça para mudar isso daqui e ampliar a pena. Não é justo um sujeito matar uma moça a facadas, depois jogar ela pela janela, sem saber se ela estava viva, isso não tem cabimento”, afimou Carbone.
No juri popular, foram apresentados vários documentos da defesa, na tentativa de diminuir a pena, já que o réu era confesso. Durante todo o julgamento, a defesa levantou a questão de que o acusado agiu em legítima defesa, mas, para a promotoria do caso, tudo isso não passou de encenação, já que o acusado teria premeditado todo o crime. “Ele convida a moça para ir ao apartamento dele, eles bebem, ele dá sete facadas nela, joga ela pela janela sem saber se ela estava viva. Isso é legítima defesa? Isso é conversa para boi dormir. É para perder tempo. Isso é brincadeira. Nós não estamos aqui para brincar. E o pior de tudo: ele premeditou, ele preparou uma testemunha para vir aqui mentir. E essa testemunha vai ser processada também, vai ser condenada e presa. Isso aqui não é brincadeira. Aqui é um tribunal do juri, onde os jurados decidem a vida da pessoa. E esse elemento devia pegar pelo menos 22 anos de cadeia”, declarou Carbone.
A família de Chiara também esperava uma pena maior. Diante de tamanho crueldade, a mãe da jovem, Lucilene, classificou o assassino como frio e calculista. “‘Cruel’ para ele é pouco, ele é frio, ele é frio e calculista. Parece que ele premeditou, pelo jeito que ele ficava. E o tempo todo falava ‘trans’, depois começaram a falar ‘Chiara’. Ela é uma trans, mas ela tem nome de registro, tem família e tem nome social”, declara. Lucilene ainda acredita em uma justiça mais dura e que a filha foi morta por ser transexual.
Hoje, a mãe da jovem se apega na fé para tentar minimizar a dor da saudade. “Eu acho que [a pena] foi muito baixa, pelo que ele cometeu, mas a justiça de Deus é maior, e a guerra continua. A justiça de Deus é maior… eu esperava mais. Foi da minha filha, foi de um ser humano que ele falou. Quando ele falou que jogou sem ter certeza se ela estava morta, foi o mesmo que ter me matado. Assim como o cunhado dele ficou falando que machucou a mão dele. Como assim machucou a mão dele? Pior foi a minha filha que não pode nem se defender. A minha filha não era ruim, não, minha filha não vivia com faca. Minha filha só era o que ela era e não deixou de ser o que ela era”, finalizou a mãe da garota.
*Com informações do repórter Vinícius Rangel
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