Londres vai construir hospital de campanha; ‘SUS britânico’ recruta voluntários

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan
  • 25/03/2020 08h04 - Atualizado em 25/03/2020 08h05
Vincent Voegtlin/EFE  O sistema público precisa de 250 mil pessoas para ajudar a transportar equipamentos, pessoal e pacientes que receberem alta

A maioria da população segue dentro de casa depois que o governo determinou confinamento obrigatório no Reino Unido. Até o som vindo das ruas mudou drasticamente — com menos trens, carros e gente circulando.

E é justamente a calma aparente das esquinas que aumenta a sensação de preocupação num contraste antes impensável.

Londres vai receber um hospital de campanha nos próximos dias que está sendo montado no maior centro de convenções da cidade. Quatro mil leitos estarão disponíveis para tentar aliviar um pouco a situação dos hospitais públicos, como São Paulo também está fazendo.

O SUS britânico também começou uma campanha de recrutamento de voluntários em massa. O sistema público precisa de 250 mil pessoas para ajudar a transportar equipamentos, pessoal e pacientes que receberem alta.

Na verdade, no Reino Unido, praticamente todas as comunidades, prédios e vizinhanças já estão se organizando individualmente. É também um movimento semelhante ao que está ocorrendo em tantos lugares brasileiros em que vizinhos ajudam uns aos outros nesta crise.

Quem é mais vulnerável fica em casa, enquanto os que estão saudáveis saem para fazer compras e buscar remédios. A mobilização no mundo inteiro é tão grande que chega a ser patético, para não dizer criminoso mesmo, questionar a gravidade da crise.

É importante a gente lembrar que, sim, há um debate muito forte na Europa sobre as consequências econômicas do confinamento em massa. Tanto que, apesar do que o noticiário pode indicar, a Europa não está completamente parada. Nem mesmo a Itália, que é o principal foco de coronavírus.

Construção civil não para

Alguns setores continuam trabalhando. No Reino Unido, por exemplo, a construção civil está liberada para tocar obras ao ar livre. Na prática, as empreiteiras maiores liberaram seus funcionários — apenas as construtoras menores seguem atuando e ainda assim sob forte pressão para interromperem seus canteiros.

Algo semelhante também está ocorrendo na França, onde a construção civil é responsável por 6% do PIB e emprega um 1,5 milhão de pessoas. Por lá, o setor segue trabalhando — mas evidentemente também foi impactado pelo isolamento em massa que está em curso.

Espanha, outro país gravemente afetado pela crise do coronavírus, também: parte da construção civil segue construindo. E até o comércio não foi totalmente paralisado.

Até mesmo a Itália mantém algum nível de atividade industrial destinada aos itens indispensáveis.

Impacto econômico

Agora, os números de contaminações são assustadores e não há serviço de saúde no mundo preparado para lidar com a situação. Por isso as ordens de isolamento estão sendo tomadas.

Na prática a escolha é entre a economia e gente morrendo sem leito por conta do coronavírus.

A conta vai chegar, não há dúvidas. A atividade industrial da China caiu 13,5% entre janeiro e fevereiro em relação ao mesmo período de 2019. O comércio teve redução de 20,5% também nos dois primeiros meses do ano.

O primeiro trimestre do ano deve ter queda no PIB chinês de 11%. Será a primeira vez desde 1976 que o governo de Pequim vai registrar queda no crescimento do PIB. É esse o tamanho do impacto econômico.

Mas se mesmo assim o mundo desenvolvido e a China estão optando por paralisar tudo que for possível é porque há um forte indicativo de que o custo humano pode ser bem mais alto.

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