Maggi lamenta perdas econômicas com greve: é como se o Brasil ficasse 15 dias de férias
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, estima que “vai demorar mais uns 15 a 20 dias até se restabelecer todo esse fluxo de mercadoria para cima e para baixo” devido à crise do abastecimento provocada pela greve dos caminhoneiros.
Isso porque todo o sistema produtivo interligado ficou paralisado, como usineiros, fábricas e frigoríficos. O ministro explicou que leva tempo até “retirar a mercadoria de onde está e começar a movimentar”.
Em entrevista exclusiva à Jovem Pan nesta quarta (30), Maggi lamentou as perdas para a economia brasileira e classificou como uma “irresponsabilidade” o bloqueio de estradas.
“Eu acredito que essa parada vai custar muito, muito caro para o País em termos de inflação, de PIB“, disse. “Foi uma irresponsabilidade a forma que foi feito. Eles (caminhoneiros) têm parte da razão, mas infelizmente saiu do controle”.
O ministro compara a paralisação a uma férias de 15 dias.
“O problema é para todo mundo, a usina deixa de vender, você deixa de consumir”, disse. “É uma diminuição da atividade econômica muito grande. É quase como se você riscou 15 dias da economia brasileira (sic), como se ficasse 15 dias de férias”, afirmou Maggi.
O ministro também prevê um grande impacto da greve nas contas públicas de Estados, Federação e Municípios. “Todo mundo já vem com as contas muito arrastadas, salários atrasados, e tudo isso vai aumentar”, disse.
Avós e bisavós de frangos ameaçadas
Maggi informou durante a entrevista que linhas de frangos essenciais para a cadeia produtiva estão ameaçadas pela crise de abastecimento. São as chamadas matrizes, avós e bisavós, reproduzidas em incubações e fundamentais para o abatimento diário de 23 milhões de frangos.
“Se a gente perder por falta de alimentos essas matrizeiras, avós e bisavós, o Brasil demora dois anos e meio para poder voltar nos volumes que nós produzimos hoje”, disse o ministro.
Segundo Maggi, a “data-limite” para se “restabelecer o fluxo dos alimentos” e evitar que as mortes ocorram é esta quinta-feira (31).
“O Brasil passaria de maior exportador do frango do mundo, simplesmente para um importador”, projetou o ministro, citando que neste caso o preço da ave seria balizado pelo preço do dólar. O ministro classifica esta como uma “questão muito delicada”.
Soja
Maggi também estimou as perdas para a soja brasileira, mas comemorou que o prejuízo não é tão grande quanto do setor pecuarista.
“Felizmente para a área da soja, do grão, a greve veio em um momento em que só atrapalha o deslocamento dela para os portos, diferente das áreas dos animais, que se não alimentar todos os dias, você acaba perdendo”, disse.
“Navios parados nos portos custam muito caro e a companhia que contratou para exportar tem que pagar”, ilustrou.
“Toda essa questão da economia, hoje em dia funciona muito da mão para a boca. Quando falha no meio de um processo desses, as multas são muito pesadas”, disse também Maggi, apontando eventuais multas de companhias brasileiras em relação a seus clientes estrangeiros.
Além disso, o consumidor internacional que fica desabastecido acaba buscando outros fornecedores. “É sempre provável que perca mercado”, disse.
Infraestrutura e desemprego
Maggi reconheceu: “mosso modelo (de transportes) é muito sobre caminhão. É verdade. Temos ampliado as hidrovias no norte e ferrovias”, afirmou.
O ministro disse, no entanto, que o “movimento que vira vandalismo” fez com que “o sistema inteiro” parasse, citando o descarrilhamento de um trem em Mato Grosso.
“Precisa ter mais ferrovias porque, quanto maior a competição, menor o preço dos fretes”, citou também Maggi, alertando para que, quando aumentarem as ferrovias no País, o preço de frete dos caminhoneiros, uma das pautas da greve atual, vai diminuir.
O ministro prevê “desemprego nesse setor (de caminhoneiros) no futuro quando tivermos mais ferrovias”.
Ferrovia Transoceânica
Maggi se mostrou desanimado sobre a viabilidade econômica da construção da ferrovia transoceânica, que ligaria o Brasil ao Oceano Pacífico, passando por partidos da América do Sul.
“Você não encontra no ministro Blairo qualquer entusiasmo para isso”, disse Blairo, referindo-se a si mesmo em 3ª pessoa. Ele vê o projeto como “fora de contexto e sem viabilidade econômica”. “Ela (ferrovia) não tem viabilidade econômica para você sair com mercadoria no Pacífico”, destacou.
O ministro reconheceu, no entanto, que a ferrovia “traz outros negócios, como a integração da América Latina”, mas ponderou que “não é uma ferrovia que fica de pé”.
“Se alguém um dia quiser fazer isso, tem que fazer por estratégia geopolítica, coisas que não tenham de trazer de volta o dinheiro do investimento dela”, projetou.
Ouça a entrevista:
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