Mais de mil pessoas morreram tentando atravessar o Muro de Berlim

  • Por Jovem Pan
  • 08/11/2019 07h32 - Atualizado em 08/11/2019 08h03
Wikimedia Commons Construção tinha 60 km de extensão

A construção do Muro de Berlim teve início no dia 15 de agosto de 1961, dois dias depois da capital da Alemanha ser dividida em dois: a socialista, do lado Oriental, e a capitalista, do Ocidental. O arame farpado, que já cercava, a cidade deu lugar ao concreto que se elevava a 3,6 metros de altura, e fortalecia ainda mais a Guerra Fria.

A construção impressionava pelos seus números: 160 km de extensão, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com arame farpado e 255 pistas para patrulhamento com cães de guarda, controlados por militares da Alemanha Oriental que recebiam ordens de atirar para matar, conhecida como “Schiess befal”, ou Ordem 101, para os que tentavam escapar.

A primeira vítima da Ordem 101 foi Gunter Litfin, um alfaiate de 24 anos que trabalhava em Berlim Ocidental e morava do lado Oriental da cidade. Impedido de trabalhar pela barreira que dividia a capital ao meio, o jovem decidiu fugir no dia 24 de agosto de 1961.

Pulou no canal que separava a cidade e nadou em direção à oeste. Ao ser descoberto nas margens do rio Spree, ergueu as mãos para sair mas, ainda assim, foi atingido na cabeça por um disparo de um dos guardas para servir de exemplo para outros que tentassem a mesma sorte.

As tentativas de fuga continuaram das mais diversas formas: através de tuneis próximos à fronteira, fundos falsos nos carros, trens, botes, cabos aéreos por cima do muro e até mesmo balões. Oficialmente, 138 pessoas morreram na tentativa de atravessar o muro, mas a imprensa alemã especula que houve mais de mil falecimentos.

O trânsito legal de um lado da fronteira para o outro era feito através de alguns postos controlados por oficiais de Berlim Oriental de um lado, e de Berlim Ocidental do outro.

Oito passagens de fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental, permitiam o trânsito de berlinenses ocidentais, alemães ocidentais, estrangeiros ocidentais e funcionários dos aliados na Berlim Oriental. Cidadãos da República Democrática Alemã e cidadãos de outros países socialistas na Nerlim Ocidental podiam passar para o outro lado desde que possuíssem as permissões necessárias.

A mais famosa ficava na esquina da Friedrichstraße e Zimmerstraße, também conhecida como Checkpoint Charlie. Uma pequena casa de madeira com a bandeira dos Estados Unidos era o mais importante ponto de passagem guardado por oficiais do exército norte americano.

Tensão

Foi ali, na Friedrichstrasse, que um dos momentos mais tensos da Guerra Fria aconteceu. No dia 27 de outubro de 1961, um oficial norte-americano foi detido por policiais da Alemanha Oriental, quando tentava cruzar a fronteira para ir ao teatro, do outro lado cidade. Imediatamente, uma escolta armada forçou a passagem e garantiu o trânsito livre do oficial.

Como reação ao incidente diplomático, o exército norte americano posicionou tanques de guerra na linha da fronteira apontando para o lado soviético. Krushov, líder do Partido Comunista, entendeu a atitude como uma provocação imperialista e também ordenou que tanques de guerra fossem posicionados, apontando para o lado ocidental.

Faltou muito pouco para que, naquele momento, a Guerra fria se transformasse, de fato, em uma guerra armada entre a União Soviética e os Estados Unidos. A solução para o conflito veio após um telefonema entre Krushov e Kennedy. O bom senso prevaleceu e os dois retiraram os tanques, temendo o risco de uma guerra nuclear.

Essa foi, literalmente, uma prova de fogo e da eficacia do chamado “telefone vermelho”, uma linha direta entre Moscou e Washington. Dois anos depois, o presidente norte-americano voltaria à cena, desta vez não via telefone, mas em visita à capital alemã e se declarando berlinense.

“Ich bin ein berliner”. Foi com essa frase que o presidente norte-americano, John F. Kennedy, concluiu seu discurso de protesto pela construção do muro no dia 26 de junho de 1963, em frente a uma multidão de 450 mil pessoas, em um palco construído na Rathaus Schoneberg, do lado Ocidental da cidade. Até hoje considerado o melhor discurso anti-comunismo durante a Guerra Fria.

*Com informações do repórter Alex Ruffo 

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