Marun não descarta nova “dancinha” por aprovação da reforma da Previdência

  • Por Thiago Navarro/Jovem Pan
  • 18/12/2017 06h00
FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Na primeira entrevista após assumir o ministério, Carlos Marun (esq.) criticou a oposição e disse que nunca foi contra a Lava Jato, mesmo defendendo a lei do abuso.

Membro da “tropa de choque” do governo de Michel Temer, Carlos Marun tomou posse na última sexta-feira como ministro-chefe da Secretaria de Governo.

Conhecido por suas posições polêmicas e atitudes extravagantes, o deputado licenciado do PMDB não descarta repetir no Palácio do Planalto a famosa “dancinha” que fez ao ritmo de samba quando a Câmara barrou, em outubro, a segunda denúncia criminal contra Temer, que classifica como “conspiração”.

Em entrevista à Jovem Pan Online, Marun disse que gosta de Carnaval e já desfilou na Sapucaí. “Se surgir em outro momento um motivo de tanta felicidade a ponto de me fazer cantarolar e até dançar, eu não posso afirmar que isso não vai acontecer”.

Um dos motivos que poderá fazer o ministro dançar de alegria é a aprovação da reforma da Previdência, pela qual Marun deverá trabalhar 20 horas por dia, segundo cobrança do próprio presidente Temer durante a posse.

Marun revelou que o governo conta hoje com 266 votos, 42 a menos que o necessário para mudar as regras da aposentadoria, mas se diz confiante na aprovação da PEC em fevereiro pela Câmara. Ele diz que apenas com os parlamentares da base aliada, é possível alcançar o número.

O novo ministro responsável pela articulação política de Temer reconhece que as eleições do ano que vem dificultam a persuasão, mas critica quem cede à pressão dos que chama de manifestantes de aeroportos. Segundo Marun os que são contra a reforma “jogam contra o País”, fazem “gracinha” com quem não vai votar neles e se escondem atrás de “batedores de bumbos”.

“Quando 30 a 40 sindicalistas batem bumbo e ofendem o parlamentar no aeroporto, ele muitas vezes se assusta entendendo que aquele é seu eleitorado. Não! Naquele momento em que aquelas pessoas estão paradas, o nosso eleitorado está trabalhando”, afirmou.

Lava Jato e abuso

Relator da CPMI da JBS que recomendou a investigação do ex-procurador-geral Rodrigo Janot e mudanças na lei de delação, Marun diz que “nunca foi crítico da Lava Jato”. Agora, como articulador de Temer, o ministro é a favor de que a Câmara aprove a polêmica lei do abuso de autoridade, criticada por membros da Operação.

O projeto, aprovado pelo Senado, prevê punição a juízes e procuradores que não respeitarem direitos individuais dos acusados. Marun diz, no entanto, que essa não é sua prioridade.

Carlos Marun reafirmou sua lealdade ao presidente ao garantir que, se Michel Temer pedir, está disposto a abrir mão da reeleição a deputado em 2018 para ficar no ministério até o fim do ano que vem.

Leia e ouça abaixo a ENTREVISTA COMPLETA com o ministro Carlos Marun:

 

O presidente Temer disse no discurso de posse que o sr. teria de trabalhar 20 horas por dia para ajudar na aprovação. Qual é o tamanho do desafio de convencer deputados e senadores a aprovar a reforma da Previdência em um ano eleitoral?

É um desafio grande, mas eu estou animado. Se você observar o histórico de votação do Congresso, há vários momentos em que medidas aparentemente impopulares foram aprovadas e o resultado positivo decorrente da aprovação justificou a correção de nosso voto. O teto dos gastos e a reforma trabalhista são exemplos disso. O histórico do Parlamento é um histórico de coragem e responsabilidade. Então confio que nós conseguiremos motivar os deputados a fazer o que nesse momento é necessário para o Brasil.

Mesmo em ano eleitoral?

O ano eleitoral pode parecer um dificultador e até agora está sendo. Mas a sociedade brasileira já começa a ver de outra forma. As últimas pesquisas às quais eu tive acesso (não revelou a fonte) já põem que 37% da população brasileira consentem que é necessário fazer a reforma da Previdência. Quando 30 a 40 sindicalistas batem bumbo e ofendem um parlamentar no aeroporto, ele muitas vezes se assusta, entendendo que aquele é seu eleitorado. Não! Naquele momento em que aquelas pessoas estão paradas, o nosso eleitorado está trabalhando. Aquela é a nossa base. O parlamentar que é abordado de forma agressiva no aeroporto, faça ele o que fizer, aquelas pessoas não vão votar nele. Não adianta se fazer de bonzinho para essas pessoas.

Eu me sinto muito tranquilo porque estou defendendo o que é melhor para o Brasil e enfrento pessoas que estão defendendo seus próprios privilégios. Eu posso me aposentar com 60 anos, daqui a três anos, e estou trabalhando pela aprovação de uma lei na qual eu vou me aposentar com 62, 63, 65. Ela vai fazer com que eu também conceda a minha cota de sacrifício àquilo que é necessário ao Brasil.

Não é possível que pessoas continuem a se aposentar com cinquenta e poucos anos recebendo salários normalmente altosColegas que se formaram comigo em engenharia há 35 anos e entraram na carreira pública estão aposentados, gente no auge de sua capacidade. E aqueles que optaram pela iniciativa privada ainda estão distantes do momento de se aposentar. O Brasil perde muitas vezes com a aposentadoria precoce: com recursos que tem que pagar a essas pessoas, perde o dinheiro que tem que tirar dos impostos para cobrir déficit previdenciário e perde também pessoas no auge de sua capacidade afastadas da atividade privada.

Então, estou absolutamente convicto de que luto nesse momento a boa luta e tenho a confiança enorme no senso e responsabilidade dos congressistas brasileiros. Estou confiante da possibilidade concreta de em fevereiro aprovar a reforma da Previdência.

Os próprios aliados do presidente dizem que o governo se comunicou mal logo em que apresentou a primeira proposta de reforma da Previdência. Você concorda com isso? E o que achou da decisão do presidente da Câmara Rodrio Maia (DEM-RJ) de deixar a votação da reforma para 2018.

Se se comunicou mal, agora está se comunicando bem. A decisão do presidente Rodrigo Maia foi correta. Nós não temos os votos suficientes para aprovar a reforma nesta semana (de dezembro). Então vamos conceder a todos mais tempo para que a conscientização dos parlamentares se consolide.

Quantos votos o governo tem hoje?

Eu trabalho com o número de 266. Acredito que ainda faltam 40 votos. Não tive acesso a novas contagens. Penso que temos alguns parlamentares que, por serem da oposição, contra o governo, nesse momento aceitam a posição de serem contra o Brasil. Porque a oposição sabe que a reforma é necessária. O ex-presidente Lula e a ex-presidente Dilma já foram em determinados momentos claramente favoráveis a uma reforma da Previdência.

Veja a análise dos comentaristas do 3 em 1 sobre a posse de Marun:

Jogando contra o governo, a oposição está jogando contra o País. Mas paciência. Esse infelizmente era o papel antigamente da oposição e nós temos que respeitar. O nosso foco não é a oposição. Nosso foco são aqueles 100 parlamentares que militam em partidos da base do governo e estão decidindo ou contra a reforma ou indecisos. Este é o nosso foco e tenho a convicção de que nesse universo conseguiremos os votos necessários à aprovação da reforma.

Até porque eu não vejo ninguém mais contestando o que está posto na reforma. Eu não vejo ninguém defendendo privilégio. No Brasil as pessoas que ganham mais continuam se aposentando mais cedo. Isso é um absurdo. É o maior sistema de distribuição de renda ao contrário no mundo: e destina recursos aos mais abastados.

Ficam se escondendo atrás de batedores de bumbos em aeroportos, mas a argumentação contra a reforma ninguém coloca. Vamos ao debate, à conscientização e eu tenho a convicção que é sim muito possível, provável e eu estou absolutamente confiante na possibilidade de aprovarmos a reforma.

O sr. ficou conhecido esse ano por debates calorosos, posicionamentos polêmicos e até a “dancinha” em que debocha a oposição após a rejeição da segunda denúncia criminal contra Michel Temer na Câmara. Agora, como responsável pela articulação política, seu estilo vai mudar? O diálogo com a oposição vai ser mais tranquilo?

O diálogo com a oposição sempre foi tranquilo. Eu sou um parlamentar que tem o respeito da oposição.

Se você quiser que eu jure para você que em um outro momento de grande felicidade eu não possa cantarolar e dançar, eu estaria mentindo. Eu sou uma pessoa transparente, pronta, e só por isso que virei ministro. Não virei ministro me escondendo, fingindo ser quem não sou. Então, se surgir em um outro momento um motivo de tanta felicidade a ponto de me fazer cantarolar e até dançar, eu não posso afirmar que isso não vai acontecer.

Mas se você analisar a minha estada no Parlamento, eu nunca utilizei os adversários como escada para minha ascensão. Você não vê eu fazendo críticas ferrenhas aos outros parlamentares.

Vai ter dancinha na esplanada dos Ministérios então, ministro?

Isso aconteceu de uma forma espontânea. Depois de seis meses de efetivo massacre, nós conquistamos os votos que definiam o sepultamento daquela conspiração.

Eu gosto de Carnaval, já desfilei várias vezes na minha cidade, Campo Grande, e na própria Sapucaí. Eu sou um brasileiro, filho de imigrantes. Não posso te afirmar que em algum momento isso não vai acontecer, mas isso não quer dizer que não vamos continuar realizando um trabalho sério.

Quando estouraram as acusações contra Temer, em um momento em que muitos aliados se esconderam, o sr. sempre foi um defensor ferrenho do presidente, assim como tinha sido do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. O sr. considera que a sua indicação para o ministério neste momento pode ser também um sinal de Temer de que quem quiser continuar usufruindo dos benefícios do governo deverá demonstrar fidelidade total?

Eu não admito fazer política sem coragem e lealdade. Não sei como alguém pensa que com covardia ou deslealdade possa avançar na política. Meu pai de quase 90 anos me ensinou muitas coisas. Sou criticado por ser leal, por seu corajoso, como se coragem fosse defeito. Não sei qual é a régua de caráter que usam os que me criticam. É óbvio que o presidente não ia querer colocar na sua articulação política nesse momento alguém que tenha a tradição de ser covarde ou desleal. Essas minhas qualidades devem ter sido determinantes para o presidente para que eu chegasse a essa honrosa função na vida da República.

Se isso é um sinal de que vamos ser mais seletivos naqueles que são apoiadores do governo, não é esse o objetivo da minha chegada ao ministério. Eu fui presidente da comissão da reforma da Previdência, a mais difícil das comissões do Congresso em 2017. Os trabalhos transcorreram tranquilamente. Abri espaço para que a oposição falasse. Diria que o que me credenciou para essa função foram a lealdade, a determinação e a coragem e o trabalho desenvolvido à frente da comissão da reforma da Previdência.

Agora é tolerância zero com os desleais?

Não, não, não, não, não, não, não, não. É evidente que alguns colegas tinham a preocupação com suas bases eleitorais. Eu tenho compreensão. Somos pessoas que entendemos que temos a obrigação e o ideal da política e da democracia brasileira, e é natural que aqueles que assim desejam lutem para permanecer no Congresso. Eu quero demonstrar a esses colegas que na verdade estão errando o cálculo. Estão fazendo gracinha para gente que não vai votar neles. É esse argumento que será usado com deputados que têm preocupação com a questão eleitoral no momento da tomada de decisão em relação ao voto na reforma da Previdência.

Vamos dialogar. O diálogo é a marca do nosso governo.

O sr. sempre foi um duro crítico da Lava Jato e isso ficou claro no relatório que você produziu na CPMI da JBS, em que pede mudanças nas regras da delação premiada. Agora, como articulador político do governo, está entre os seus objetivos ajudar na aprovação de leis que restrinjam os supostos excessos da operação, como a lei de abuso?

Eu nunca fui um crítico da Lava Jato. Eu não sou um crítico da Lava Jato. (A delação da) JBS não é a Lava Jato. Eu realmente tenho divergências com a atuação da antiga cúpula da Procuradoria-Geral da República. Se você concorda que aquele ‘voo da alegria’, em que os Batistas chegassem ao aeroporto escoltados por procuradores e pudessem partir para os EUA, eu entendo que não pode ser assim e penso que nossa CPI foi até didática. Onde existe falta de transparência, excesso de poder e muito dinheiro envolvido, é muito possível que aconteça coisas controversas, equivocadas e ilícitas.

A CPI da JBS não avançou na Lava Jato, mas se manteve restrita a essa delação absurda, escandalosa e espúria que se estabeleceu entre antigos membros da Procuradoria-Geral da República comandada pelo sr. Janot e os irmãos Batista. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Sobre o abuso da autoridade, eu penso que ninguém está acima da lei. Se está tão evidente o cometimento de atos ilícitos, como nas questões da JBS. Nenhum deputado, nem aqueles que formavam a ‘tropa do tapete’, que queriam varrer para baixo do tapete, nenhum deles apontou qualquer equívoco nas situações que eu demonstrei.

E o sr. articularia em torno de leis que mudam as delações ou a própria lei do abuso?

Eu até recuei na questão do indiciamento dos senhores Janot e Pelella numa demonstração de confiança nos trabalhos do Ministério Público. Enquanto aqueles procuradores mais boçais, como o rapaz de Curitiba, que não é o dr. (Deltan) Dallagnol (chefe da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba), que ainda faz força para estabelecer o mínimo de respeito das relações entre a sua atividade e o Congresso Nacional. Mas aquele outro e até a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que batem no bumbo que procurador não possam ser investigado, é uma licença para errar mesmo que o erro seja doloso, criminoso e resulte em danos ilícitos. E eu não vejo isso na legislação brasileira.

Enquanto esses setores irem para o encastelamento protecionista em relação aos srs. Janot e Pelella, a procuradora Raquel Dodge agiu com extrema serenidade e disse que só se manifestaria após receber o material da CPMI. Essas palavras tornaram ainda maior a consciência que tenho do trabalho do Ministério Público. O Ministério Público do meu Estado, que me conhece, mandou um representante na minha posse. É prova de que eu mantenho o diálogo, respeito o trabalho do Ministério Público, mas isso não quer dizer que eu tenha que respeitar uma situação evidentemente ilícita, como foi esse absurdo da delação da JBS.

Quanto ao abuso de autoridade, entendo que deve sim ser aprovada na Câmara a lei de abuso de autoridade aprovada no Senado. Todavia essa não é minha prioridade. Minha prioridade tem nome e sobrenome: reforma da Previdência.

Como é suas relações políticas no Senado, onde o próprio PMDB de Renan Calheiros faz críticas ao governo?

Eu tenho obviamente uma resistência no Senado. O próprio PMDB de Renan Calheiros que você citou, a senadora que deixou o PMDB, foi expulsa do partido (Kátia Abreu). Com os outros eu tenho uma boa relação, salvo também a ‘turma do tapete’, que vai empurrar para baixo do tapete a investigação da CPMI da JBS. Todavia eu tenho uma boa relação com a grande maioria dos senadores. Tenho uma boa conversa com o presidente Eunício (de Oliveira, PMDB-CE). Da oposição, claro que não concordo com sentar em cima da mesa (crítica à obstrução realizada por senadoras do PCdoB e do PT, como Gleisi Hoffmann, que ocuparam a mesa diretora do Senado durante votação da reforma Trabalhista, em julho).

Se eu dancei quando estava de saída do plenário, você não me viu dançar em cima da mesa diretora da Câmara dos Deputados. Desse tipo de balbúrdia eu discordo completamente. Até respeito o trabalho da oposição. O que eu tenho aversão é à hipocrisia. Eu tenho asco da hipocrisia. Tem senadores hipócritas que geralmente batem bumbo na questão da CPI da JBS. Com eles eu tenho maior dificuldade de trato do que a própria oposição que está sendo contra o Brasil, mas está desempenhando o seu papel.

O sr. pretende disputar algum cargo eletivo no ano que vem?

Eu estou à disposição do presidente Temer. Tem um analista da Folha de S. Paulo que tem nome de um cachorro, São Bernardo (Bernardo Mello Franco), que disse que eu não teria chance vencer a eleição no meu Estado. Não existe pesquisas eleitoral no Mato Grosso do Sul para deputado federal na qual eu não esteja em primeiro ou segundo lugar. Eu tenho a mais absoluta tranquilidade de disputar a reeleição para a Câmara dos Deputados.

Todavia, a partir do momento em que eu aceito o desafio de exercer uma função como essa, eu me coloquei à disposição do presidente Temer para completar com ele o seu mandato. Estou à disposição do presidente Temer para estar ao seu lado até a conclusão de seu mandato para disputar uma eleição que, modéstia à parte, é certa hoje para deputado federal.

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