Mesmo com participação discreta, Brasil vê reflexos da I Guerra Mundial, que completa 100 anos

  • Por Jovem Pan
  • 09/11/2018 06h52 - Atualizado em 09/11/2018 08h51
Jefferson Rudy/Agência Senado Jefferson Rudy/Agência Senado Por mais que o país não tenha se envolvido tanto, as ondas de choque reverberaram no campo econômico, das migrações e da diplomacia

Neste domingo (11), se completam 100 anos do fim da Primeira Guerra Mundial. O Brasil teve uma participação discreta no confronto e pode não parecer, mas mesmo depois de tanto tempo é possível observar consequências do confronto ainda hoje.

Por mais que o país não tenha se envolvido tanto, as ondas de choque reverberaram no campo econômico, das migrações e da diplomacia.

Para entender isso melhor, vamos dar uma volta; primeiro, na Zona Leste da capital paulista. Hoje um supermercado, a imponente construção da rua Taquari, na Mooca, já abrigou uma das mais importantes fábricas de São Paulo.

O Cotonifício Crespi foi palco de alguns dos movimentos que desembocaram na greve geral de mil novecentos e dezessete. A paralisação durou um mês com aproximadamente cem mil trabalhadores cruzando os braços.

O historiador Renato Soares Bastos explica que a guerra causou a escassez de produtos, o aumento de preços e piorou as condições nas fábricas. Esse modelo de sindicalismo era diferente do que temos hoje. Apesar de ter um certo nível de organização, ele não se compara às grandes estruturas que começaram a se firmar a partir da Era Vargas.

Ou seja, uma das consequências da Primeira Guerra no Brasil é o modelo sindical atual, que surge justamente como um contraponto às manifestações iniciadas em 1917.

Da Zona Leste para o Centro; no Bom Retiro, quase chegando na Zona Norte, conseguimos observar sinais da imigração armênia no Brasil. Além das igrejas cristãs da comunidade, existe um monumento que lembra as mais de 1,5 milhão de vidas perdidas no genocídio do país que fica entre a Europa e a Ásia.

O massacre foi promovido pelo Império Otomano, país que hoje corresponde à Turquia, e que formava a Tríplice Aliança junto com a Alemanha e o Império Austro-Húngaro.

O professor de relações internacionais da Facamp, James Onnig, diz que os otomanos aproveitaram a Grande Guerra para promover as mortes em massa com o objetivo de se apossar de terras e bens.

O professor James Onnig explica ainda que a primeira onda de imigrantes armênios chegou à capital paulista pouco mais de uma década depois do genocídio. Os oriundos da diáspora tinham na construção de uma igreja e de uma escola os elementos para continuar as tradições do povo.

Para além do que podemos observar na capital paulista, a Primeira Guerra Mundial também deixou um legado importante na nossa diplomacia. O Brasil foi o único sul-americano a entrar no confronto. Com isso, o país passou a ter acesso a tratados no pós-guerra que favoreceram uma projeção brasileira no exterior.

O embaixador Rubens Ricupero avalia que essa participação reforçou uma tradição brasileira de não se omitir nos grandes eventos internacionais. O Brasil se engajou na Primeira Guerra Mundial enviando medicamentos e equipes de assistência médica para ajudar os feridos de Reino Unido, França, Rússia e Estados Unidos. Esses países formaram a chamada Tríplice Entente, que venceu o confronto superando as forças da Tríplice Aliança.

A guerra durou quatro anos, matando mais de 10 milhões de pessoas. As hostilidades pararam às onze horas do dia 11, do mês de novembro de 1918; serão 100 anos do fim do conflito no próximo domingo.

*Informações do repórter Tiago Muniz

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