À imprensa britânica, Mourão diz que povo brasileiro ‘não é muito disciplinado’
Vice-presidente listou as ações do governo que, segundo ele, está fazendo um bom trabalho
A BBC deu destaque, na manhã desta terça-feira (18) para as queimadas na Amazônia e o total descontrole do coronavírus no Brasil. A estatal britânica veicula hoje uma entrevista com o vice-presidente Hamilton Mourão tratando destes assuntos. O general foi questionado sobre a postura negacionista do presidente Bolsonaro, que classificou a pandemia como “gripezinha”. Mourão listou as ações do governo que, segundo ele, está fazendo um bom trabalho — e também deu uma justificativa para as mais de 100 mil mortes.
O vice-presidente disse o seguinte. “Você tem que entender a natureza do povo brasileiro. O brasileiro não é muito disciplinado. É impossível dar uma ordem de cima para baixo dizendo o que as pessoas têm que fazer. Governadores e prefeitos tiveram muita dificuldade em manter as pessoas em casa. Temos muitas favelas nas grandes cidades, então é difícil manter as pessoas em casa. Essa desigualdade complica o combate da pandemia como ocorreu na Europa.”
Agora, o que também torna difícil o combate a pandemia como ocorreu na Europa é ter um presidente que nega o tamanho do problema e desarticula os esforços regionais que foram adotados. Culpar a indisciplina do povo é bastante curioso se a gente olhar os exemplos da Europa. No Reino Unido, por exemplo, as pessoas seguiram as ordens do governo enquanto elas foram claras e diretas. O primeiro-ministro Boris Johnson foi à televisão e deu instruções objetivas do que deveria ser feito.
Isso nunca aconteceu no Brasil. Então essa indisciplina a que o general se refere teve início dentro do Palácio do Planalto durante a pandemia. E, mesmo na Inglaterra, quando o governo começou a vacilar nas orientações, a população também relaxou. O que tem sido crucial em todos os países que contiveram o coronavírus até agora é o trabalho coordenado. Isso realmente exige disciplina de todos, começando por quem tem posição de comando.
E o Brasil segue com destaque na imprensa europeia — infelizmente é uma cobertura negativa com toques de surrealismo. O The Guardian, por exemplo, relata hoje o caso da menina de 10 anos do Espírito Santo que foi perseguida por fanáticos religiosos depois de ser violentada por um tio e precisar fazer um aborto. No Reino Unido o aborto é legal desde 1967 e pode ser realizado por questões sócio-econômicas até a 24ª semana de gestação e, depois disso, somente por questões médicas.
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